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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Cirurgia Odontóligica

NOTA de AGRADECIMENTO

Desejo agradecer primeiramente à Deus. Em seguida, aos familiares, amigos e amigas, pelas inúmeras mensagens enviadas, desejando-me melhoras e saúde, após a realização de uma cirurgia odontológica, realizada pelo Professor e Doutor Aníbal Luna e sua equipe, realizada no Hospital da UNIMED, objetivando enxertar ósseos e procedimentos cirúrgicos para implantes de cinco dentes, na parte superior da minha boca.

Sucesso total, e após 12 horas, recebi alta hospital e já estou em casa. 



Muito obrigado à todos. Forte abraço.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Praia do Poço

Chegamos à praia do Poço no veraneio na década de 60. A praia era, praticamente, habitada por uma pescadores e seus familiares e, no verão, duplicava a população, devido os veranistas, oriundos da capital e do sertão do Estado.

A praia do Poço fica localizada no Município de Cabedelo, cerca de 15 km de João Pessoa. A época o deslocamento entre as cidade de Cabedelo e João Pessoa era bastante precária. A estrada apesar de asfaltada, era na verdade toda esburacada, e muitas vezes os veículos estoravam os pneus. A duração desse percuso durava aproximadamente uma hora. Mas, veranear no poço era uma dávida de Deus. Vizinhança pacata, sem mito movimento, mar calmo, vários currais de peixe e, em particular, a Ilha Vermelha, uma das maiores atrações turísticas da orla paraibana.

Não me sai da lembrança a primeira viagem para o litoral. A família acordou as três da manhã. Tomamos café e pegamos a estrada, a época, sem asfalto e muito esburacada. Noventa quilometros depois, paramos em Juazeirinho. Eram seis horas.

Eu e meus irmãos Fernando, Osvaldo, George e Humberto, ainda sonolentos, descemos do carro sentindo o vento frio do Cariri bater nos nossos ossos. Papai logo reconhecido pelo dono do café, o Sr. Vital, cidadão alegre e conversador que nos recebeu com um sonoro, Bom Dia!, Sr. Carlos Trigueiro. Em que posso serví-los? Enquanto esperavamos o café, ficamos olhando os quadros dos times de futebol pregados na parede e uns carrinhos de lata, atraiam a nossa atenção.

Duas horas depois, estavamos passando pelo açude de Bodocongó, em Campina Grande. Era um alívio, pois, o trecho de Campina a João Pessoa era pavimentado. Viajavamos sem pressa. Ao meio dia estavamos deixando a Avenida Epitácio Pessoa, em João Pessoa, e pegando uma estreita via calçada com paralelepipédos, rumo a Cabedelo.

Na altura onde hoje existe o Carreful, paramos esperando a liberação de caminhões carregados que vinham do porto de Cabedelo. Era o Posto Fiscal do Estado. Miniutos depois estavamos entrando, a direita, numa estrada de areia e cascalhos rumo ao Leste. Coqueiros, cajueiros, araçás e mangabeiras dominavam a natureza. Finalmente chegamos ao centro da Baia do Poço. Tinhamos duas opções: seguir a esquerda ou a direita. Em frente não podia era o mar. Papai, antes de entar a direita, chamou a nossa atenção para uma grande palhoça coberta com palhas de coco: “ali serve uma peixada de garoupa ao molho de côco acompanhada de um pirão de farinha para ninguém reclamar, vamos tomar casa e depois voltar para o almoço”.

Este foi o meu primeiro contato com a famosa Nega, uma peróla negra descendente de uma linhagem nobre africana. Simples e carismática, além de ter a mão divina na arte culinária. Da sua cozinha com fogão a carvão e panela de barro, saiam deliciosos pratos de frutos do mar, peixes, camarões, lagostas, siri mole e mariscos.

A clientela era seleta. O seu tempero competia com os melhores e luxuosos restaurantes da Capital, como o Cassino da Lagoa, o Elite em Tambau e o do Clube Cabo Branco. Ela era a estrela do Poço, a preferida dos politicos, industriais e comerciantes. A sua maior virtude era que nada disso modificava o seu modo de atender o cliente, as portas sempre estavam abertas para todos. De vez em quando a frequentavamos. 
   
Até meados dos anos 60, a Capital do Estado tinha como principal fonte de renda, o serviço público. Era conhecida como uma cidade de funcionários públicos, capital dos barnabés, sempre tranquila e calma. Suas praias eram praticamente desertas. Prevalecia a  grande área de Mata Atlântica existente na faixa litoranea que favorecia a concentração de umidade e precipitação de muita chuva.

A praia do Poço não era diferente. Poucas famílias residiam o ano todo. Dentre elas destacamos os casais Geraldo e Mariza Smith; João e Irene Peixoto; Pedro Jorge e Corina; Geraldo e Ana Filqueiras, Alfredo e Elcy Heim, as Famílias Chaves, Melo, Barros, Cantalice, Honorato, Ribeiro, Brandão, entre outras. Com os quais a nossa família desde o primeiro dia sentiu-se em casa, com a solidariedade e hospitalidade que nos foi ofertada. Era uma mudança, tudo era novidade. Desde onde comprar o pão, até o abastecimento da água potável.

Não existia abastecimento dágua. Cada morador tinha que coletar sua água em tambores, na vizinha João Pessoa, muitas vezes da s fontes da Bica. Cada casa tinha um poço tubular que fornecia água salobra e amarelada com odor de maresia que servia para higiene corporal e serviços domésticos. A prestimosidade desses vizinhos, gerou um clima fraterno, de tal forma que em pouco tempo, juntamente com  os seus filhos, eu e meus irmãos, nos sentiamos em casa. Vale ressaltar, que até hoje conservamos esse sentimento fraternal de amizade.

Veraneava também na praia, o nosso conterraneo, Prof. Antonio do Vale, numa casa de frente a nossa, que foi alugada ao Sr. Antonio Carvalho que tanto alugava como construia casas para vender. No verão de 1961, meus pais, vendo que Humberto (meu irmão excepcional) gostava demais de tomar banho de mar e, sentindo o calor humano, o respeito demonstrado pela comunidade do Poço, tomou a decisão de adquirir um terreno e construir uma casa para veraneio.

Tratou logo de fechar o negócio com o Prof.  Antônio do Vale, que lhes vendeu o terreno e, já em 1962, estavámos veraneando em nossa casa récem construída. Passo decisivo para a nossa integração na comunidade do Poço.

Ficou tudo mais fácil. A casa foi toda mobiliada e equipada com tudo que necessitavamos para o nosso conforto. Com isso, na nossa adolecência, todas as férias de fim de ano, passamos na Praia do Poço. Geralmente, a partir do mês de novembro até o início do mês de março do ano seguinte.


Eram as férias mais importantes para mim e meus irmãos. Quando terminava o veraneio saíamos todos chorando. Conseguimos tecer um forte vínculo de amizade com os veranistas e moradores:  Antônio Fernando, Sérgio, Fábio e Martinho e Geraldo Smith; João Filho, Beto, Paulinho, Carmem Lúcia e Fátima Peixoto; Marco, Eugênio, Sônia, Lígia e Geraldo Filgueiras; Geraldo, Antônio, Nizita, Piedade e Margarete Carvalho; Sérgio, Selda e Rolin; Alcy, Neneca (casou com meu irmão George), Alfredinho e Sozinho Hein; Gilson e Carmen Melo; Eliane, Juvenal, Luiz e Marta Vieira; Jorge, Regina, Amélia e Carmetinha Chaves; Celso e Eduardo Barros; Celso, Rejane e Leda Delgado; Antônio e Noaldo Pergentino; Alcione, Pedro Jorge e Astrid Souto Maior; Ely, Eline e Eliane Justos; Tota, Armando e Virna Ribeiro; Marco e Jin Cantinzani; Joelson Machado; Flávio Torres; Chico e Beth de seu Narcísio; Jocelyn, Alberto, Luiz, Sônia e Ricardo Brandão; Tota de Onaldo; Everaldo Cantalice; Remilson e Fernando Honorato; Benício e Germana de Oliveira Lima; Júnior, Penha e Willys Wanderley; Juvêncio e Marcílio Almeida; Alberto, Socorro, Melita e Lola Barroca Falcão; Roosevelt Seixas; Socorro, Paulo, João e Fernando Guimarães; entre outros. A turma era unida e animada. Ninguem ficava parado por falta de um divertimento.


No nosso tempo, o Poço era um paraiso  privado dos veranistas. Eudoro Chaves de saudosa memória, empresário de sucesso, proprietário de um tipografia era um amante dos esportes, pricipalmente do tênis e do volley e um dos pricipais líderes da Praia do Poço, na época, reuniu-se com outras famílias ali residentes e criaram uma associação sem fins lucrativos, e com o objetivo de unir forças, para lutar por melhorias na praia. Era muito precária a infraestrutura urbana parecendo mais uma grande vila, sem nenhum planejamento urbano, poucas casas em alvenaria e  a maioria de taipa ou cabanas de palha. A Prefeitura de Cabedelo até os dias atuais ainda não olha com bons olhos aquela praia. Sai e entra prefeitos e vereadores e o resultado todos sabem ...

Havia necessidade de uma representação para reivindicar serviços básicos, como limpeza, iluminação pública, água etc. Mas, o objetivo principal dessa agremiação era agitar com eventos esportivos para a juventude e os veranistas do Poço. No esporte ele promoveu campeonatos de futebol na praia, futebol de salão e voleibol. Nas festividades deu prioridade ao Natal e aos gritos de Carnaval, destacando o carnaval de Areia Vermelha. Esse último evento era fantástico. Todos os foliões faziam fantasias de papel e alugavam os botes dos pescadores, contratavam uma orquestra de frevo, levavam bebidas e tira-gostos, e só voltavam quando a maré começava encher. Eudroro Chaves com visão futurista já, na época, providenciava baldes para serem colocados os lixos e tinha um barco especial para transportar os mesmo para a terra. Na praia, ao encerrar o evento, era escolhido e premiados as três melhores fantasias. Alegria total!
  
Tradicionalmente, a noite de Natal comemorava-se em família. Cada uma organizava seu jantar, sendo o perú, o prato principal a ser servido depois da Santa Missa Natalina na Capela de Nossa Senhora de Nazaré. Os clubes não promoviam festas. Daí o espirito de unidade familiar da Comunidade do Poço e de se organizar uma grande ceia natalina para todos os associados. A festa era realizada no antigo pavilhão de venda de peixe, marco de  divisão dos lados Norte e Sul da Praia, onde até pouco tempo foi o bar de Marcão, hoje parece-me que estão construindo uma praça pública. Já era tempo de alguma providência do poder público.

Cada morador levava sua mesa, cadeiras, bebidas e comidas. O evento era animado por uma das melhores orquestra de salão da capital. Só terminava por volta das cinco horas do dia seguinte, quando muitos aproveitavam o banho de mar para curtir a ressaca. Com o tempo a festa ganhou fama. Era a única na grande João Pessoa. Cada associado podia convidar uma familia. O pavilhão ficou pequeno. Tempo bom! Erámos felizes e não sabiamos.

A associação não comemorava o revellion. A festa ficava por conta do clube Cabo Branco, com um magnífico baile carnavalesco, muitas vezes tocado por Severio Araujo e sua famosa Orquestra Tabajaras, do sul do País. Quantas lembranças.

A praia era uma calmaria. Papai sempre foi animado, espirito de jovem, reunia-se com a velha guarda (Geraldo Smith, João Peixoto, Geraldo Filgueiras, João irmão de dona Marísa Smith), e numa grande mesa no jardim, ficavam bebericando, animados pelo pandeiro de Sr. Peixoto, saboreando pasteis e empadinhas de camarão, até às 23:50, quando todos em trajes de banho e copos na mão, caminhavam até o mar, aguardando a hora zero, entre fogos e drinks. Aí mergulhavam e quando emergiam, gritavam: Feliz Ano Novo! Era tudo muito simples, mas muito significativo.

A divisão geografica da praia do Poço, em dois lados (Norte e Sul) tinha por objetivo localizar os moradores, já que não existia ainda placas e ruas organizadas. Esse fato acirrava uma certa rivalidade quando aconteciam jogos de futebol ou voleibol. Cada lado dizia ser melhor do que o outro. Arrefecida as emoções esportivas, todos voltavam a irmandade e iam, juntos, comemorar a vitória, nos famosos assustados na base da radiola  e cuba libre. Tudo inesquecível.

Dr. Ernani Ayres Sátiro, amigo velho, conterrâneo de papai, filiados a UDN,  amigos e correligionários foi nomeado pelos  revolucionários de 1964, para o cargo de Governador da Paraíba. A imprensa local anunciava e era verdade, que o futuro governador mantinha na propriedade do seu cunhado, na praia de Camboinha, seu quartel general. Era lá que ele reunia os amigos e correligionários, objetivando compor sua equipe de secretários, para gerir os destinos da Paraiba.

No entanto, quando ele estava de saco cheio dessas conversas (cobranças) políticas, ele vinha desopilar na nossa casa do Poço, na companhia dos conterraneos Major Geraldo e Dr. Chico Soares. Esses dois fiéis escudeiros,  foram, no seu governo, Chefe da Casa Militar (Major Geraldo) e  Secretário do Interior e Justiça (Dr. Chico Soares). Eram momentos de descontração, recordação das velhas histórias, risos, piadas, só um tema não se tocava: Política!

O Passaport rolava como se fosse um patinete de ladeira abaixo. A turma era uma pipa! Ficavam alegres, sem nunca perder a postura. Cada drink, tinha como tiragostos petiscos e galinha de capoeira torrada na panela de barro. As 14:00, Mamãe e Amélia serviam um almoço caprichado, a base de frutos do mar. Vale ressaltar que elas e Dona Antonieta, esposa de Dr. Ernany, eram muitas amigas. Essas reuniões ocorreram diversas vezes, antes e depois, de sua posse no Governo do Estado da Paraíba.

Em uma dessas farras, faltou água na caixa. A bomba que puxava água de um poço  tubular artesanal, pifou. Naturalmente que foi um vexame para Papai e, em especial, para Mamãe. O amigo e futuro Governador, quando bebia era um assíduo frequentador de sanitários. Seria uma disfeita um sanitário sujo e mal cheiroso.  Foi um Deus nos acuda.

Papai, homem experiente, fez do limão, uma limonada. Aproveitou a deixa, para fazer uma reinvidicacão ao seu amigo e agora Governador, Dr. Ernany, que quando assumisse o governo, realizasse um sonho da Comunidade do Poço - resolvesse o problema da falta dágua na praia. Justificou o seu pedido, pela via crucis que percorriam os veranistas para obterem água potável. A maior parte coletava água na fonte do Parque Arruda Camara (BICA), em garrafões, ancoretas ou depositos de plástico.

Amigo velho, homem de palavra, garantiu que iria resolver o problema.  Dito e feito. Uma das primeiras obras do seu governo, foi a construção da caixa d’água e perfuração de um poço profundo – que jorrava água de boa qualidade.

A inauguracão foi uma festa. Haja whisky! O almoço, longe dos holofotes, foi na nossa casa. Foi um encontro do Poder dos  Patoenses com a Comunidade de Amigos da Praia do Poço, representada pelo casal Geraldo e Marisa Smith. João e Irene Peixoto. O Secretário que determinou e executou a obra foi o dinâmico Dr. Ronaldo Tavares, irmão de um grande amigo meu - Francisco José, filho de Dr. Artur Tavares, figura histórica e de prestígio em Patos.

Naqueles tempos, de adolecência, as brincadeiras eram saudáveis. As famílias de veranistas gostavam de realizar festinhas, os insqueciveis “assustados”. - Os meninos e meninas, aproveitando-se dos cochilos, dos adultos, aproveitavam para dançar, paquerar e namorar. Esses encontros originam vários casamentos, entre os que cumpriram suas promessas de amor nos concertos a luz da lua, na voz e violão do saudoso Everardo Gurgel e Everaldo Cantalice. Recordo-me: George e Neneca; Fábio e Marta; Roosevelt e Melita; Sérgio e Fátima; Juvenal e Julieta; Luiz e Glícia; Beto e Eliane; Eduardo e Amélia; Antonio Fernandes e Maria Antonia; mais os concertistas, Everardo e Sonia, Remilson e Mércia, entre tantos outros. 

Quando a gente estava com pouco dinheiro, queria beber e comer do bom sem luxo, se dirigia para uma caiçara localizada na via BR 230 na entrada da praia do Poço.  O dono do bar era Aluísio e sua esposa, que, apesar da falta de estrutura, cozinhavam muito bem. Eles estavam começando e possuiam concorrentes fortes - Nega, Onaldo e Lucena. Logo, embora tudo muito bom, os preços eram baixos. Era uma caiçara, protegida pela sombra de uma grande gameleira.

Num certo dia estavamos todos lá, pois tudo que era de novidade atraia a nossa atenção. Depois de ingerir umas e outras, veio a vontade de ir ao WC. Como não tinha e o local era desabitado, o propietário apontava para atrás da velha gameleira. Beto Peixoto, como sempre foi austucioso, depois de umas idas, perguntou: Aluísio, como é nome do seu bar?...Não batisei ainda! Ele fulminou: Bar do Mijo! Caiu como um raio... Risada geral... Foi assim o batismo do mais famoso bar dos alcoolatras nominados da Praia do Poço.

Terminada a farra no Bar do Mijo, dando continuação as brincadeiras da turma, a presepada era mudar os móveis dos terraços das casas dos nossos pais. Por exemplo: os móveis do terraço da minha casa, permutava com os da casa do vizinho, e assim sucessivamente. Pela manhã quando nossas mães acordavam, ficavam estarrecidas com a  bagunça. Era o comentário geral : Quem eram os deliquentes de tamanha ousadia? 

O amanhecer na Praia do Poço, sempre foi um novo dia cheio de opções para se divertir ou fazer travessuras. A escolha do que fazer dependia do astral da turma e das marés. Maré alta, iamos explorar as matas de araçá e cajueiros na fazenda dos Marinheiros, a poucos metros da nossa casa. Matéria prima para  suco de araça, caju, e tira-gostos da cachaça.

Já nas marés baixas aproveitavamos para jogar pelada na beira da praia e coletar minhocas nos troncos dos coqueiros, enterrados no mar, fontes de minhocas, excelentes iscas para a pesca de anzol e onde armavam os currais de peixes.

Nas grandes marés, participar dos arrastões, juntamente com os pescadores. Puxar as pesada rede, por dois cabos de corda, com uns 100 metros de comprimento cada um. Obedecendo o movimento das ondas, o mestre gritava: agora! Aos poucos, venciamos a força do mar. Um verdadeiro cabo de guerra. Quanta  fartura. A rede vinha repleta dos mais variados frutos do mar: cação lixa, tartaruga, tainha, avoador, vermelho, dentão, cangulo, agulha,  siri mole, camarão, lagostim,  sardinha etc. Era dia de Arrastão!

Quando não tínhamos nada a fazer íamos para as ruinas da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré do Almagre. Uma construção feita pelos Franciscanos no tempo da colonização da Província da Paraíba, localizada na propriedade do Sr. Álvaro Jorge, dono das baías de Ponta de Campina e de Intermares e próxima do sobrado da casa sede da fazenda. Para o início do ano de 2020 foram reservados, certamente por desígnios da Providência Divina, dois marcantes eventos de caráter sócio-religioso com grande impacto no seio das Comunidades da Praia do Poço. 

Lá, sem sabermos do prejuízo de causaríamos, usando a ponta do canivete, rasgavamos as rochas de calcáreo, ao esculpir  as letras iniciais dos nossos nomes. Nessa época ainda existia a estrutura do altar mor. Se pecamos pela nossa falta de informação sobre os danos causados a tão importante obra, pior é o descaso das autoridades da Paraiba de não preservar sua história.

Fábio Smith sempre foi uma pessoa criativa e irriquieta. Da nossa turma da praia do Poço era o irreverente que sempre tinha uma piada pronta. Como todos nós gostavamos de carnaval, Fábio criou um bloco carnavalesco, que no ínício não tinha grandes pretenções. No entanto, com o decorrer do tempo o bloco, hoje, faz parte do Folia de Rua do carnaval da Grande João Pessoa.

O nome do bloco é Bicho de Pé. Onde a barra é pesada, com muita alegria, cachaça e frevo no pé. Fábio colocou porque na época a praia do Poço tinha muitos desses bichos. Era gostosa a coceira desses danadinhos nos dedos e sola dos pés. Sua extração tinha que ser feita com uma agulha, com cuidado para não estourar a bolsa, pois caso acontecesse, teria com certeza uma infestação em todo pé.                            

Como já narrei, jogávamos muito futebol na praia, futebol de salão e voleibol. Fiz parte da seleção da praia do Poço, que disputou o torneio de voleibol entre as praias de Tambaú, Poço e Formosa, que eram compostas dos melhores atletas da Paraíba. A nossa equipe era constituída por: Remilson Honorato, Sérgio Rolim, Ely Justos; Valderedo Nunes; Paulinho Peixoto Dácio e eu que exercia função de levantador. Fomos vice-campeões desse torneio. Só perdemos para o time de praia de Tambaú, que tinha atletas da seleção Paraibana.

Outra atração que deixou muitas saudades foi a Boate Senzala de propriedade  do nosso querido amigo Sérgio Smith.

O Bardionaldo foi criado em 1959. O restaurante de Nega, tinha criado fama, era pequeno para atender a demanda dos turistas que buscavam curtir a praia e depois saborear um bom prato. Onaldo inteligentemente, aproveita essa oportunidade de abrir um bar com uma variedade de deliciosos petiscos a base de frutos do mar, uma  alternativa para atender a crescente demanda de visitantes e veranistas.

Quando começamos a veranear, a sua estrutura era simples, tinha a coberta de palhas de coqueiro. Como forma de conquistar a freguesia da juventude, construiu no terreno ao lado uma quadra de voleybol e de futebol de salão, com iluminação para os jogos noturnos. A quadra passou a ser o Hot Point da juventude e local da  realização de  imemoráveis disputas esportivas.

O ensopado de caranguejo ou de camarão, acompanhado de um pirão amarelo e arroz branco, eram os pratos quentes da cozinha, aprovados pelos turistas europeus e americanos que visitavam a praia do Poço. A receita do pirão é secreta. Só os proprietários sabem e não ensinam a ninguém. Eu e meus amigos eramos fregueses de carteirinha, por qualquer motivo, estavamos bebiricando no Badionaldo. Com o aval do garçom Agripino, faziamos até “pendura”, que só era paga nos fins de semana, quando recebíamos a mesada dos nossos pais. 

Uma histórica farra aconteceu com meu irmão Fernando e meu amigo fraterno Garibaldi Soares, nosso convidado para frequentar a república, que veio passar um fim de semana na praia.  Para não incomodar, Papai e Mamãe, construiu um quarto nos fundo do terreno para ser nossos domirtórios, ficavam assim, independentes do corpo da casa. Tinhamos redes e camas de campanha para alojar os nossos amigos visitantes. Não tinhamos hora para chegar nem para acordar, viviamos num paraiso, deixavamos tudo aberto, nossos pais dormiam tranquilos. Então, Fernando tinha passado no vestibular de economia na Escola Francisco Mascarenhas de Patos, motivo para tomarmos um pileque logo após a partida de futebol de salão.

Com pouco dinheiro, sozinhos no bar, pedimos um litro de montila, uma coca de 250 ml e uma porção de ensopado de caranguejo. As doses eram fortes e a coca tinha que acompanhar o consumo do litro. Já estavámos alegres, quando de repente para ao lado, um Ford Galaxi  placa bronze, GE-01. O motorista era a única pessoa que estava no veículo, depois de alguns segundos, resolveu sair do carro. Aquela figura magra, de palitó branco, camisa social sem gravata, chapeu panamá na cabeça, olhou para nós e sentou-se na mesa ao lado. Era nada mais, nada menos, do que Governador João Agripino. Ele era fregues assíduo do Bar de Nega, que naquelas alturas da noite estava fechado. Imediatamente o garçon se dirige a sua mesa, ele antes de qualquer coisa, pergunta para nós, se podia sentar à mesa conosco.

A resposta foi - sim Excelencia ... imediatamente, com um sorriso ironico, nos diz, Excelencia é no Palácio, aqui eu sou João Agripino. Solicitou um copo, tomou umas doses de rum puro. Não largava um cigarro, não falava de política, perguntou de onde éramos e quem eram os nossos pais, bem como, qual o motivo da nossa comemoração. Fernando alegre, responde: eu passei no vestibular de economia lá na Faculdade em Patos, e logo em seguida, perguntou: Na sua experiencia, Governador, qual a contribuição que a Escola de Economia de Patos pode dar a Paraiba?

A resposta foi típica do seu caráter - dizia o que sentia e respondeu mais ou menos assim: “Meu jovem, não quero estragar a sua festa, mas  lhes digo o seguinte, se a Federal de João Pessoa nada contribui, imagine a de Patos” .

Demourou mais um poco, terminou sua dose, chamou o garçon, e perguntou quanto custa uma dose de rum? A seguir tirou o correspondente da carteira, nos entregou, agradeceu a companhia  e boa noite. Ficamos putos da vida, achavamos que ele ia pagar a nossa farra. Mas o Magro, era inteligente, sabia que se pagasse não estaria hoje narrando o seu gesto. A sua ímagem perante o povo Paraibano era de um Governador honesto, austero e trabalhador, sabia construir a sua lenda.

Quando visitei a Grécia, soube da historia dos Guerreiros de Sparta, onde o nascimento de cada criança, era controlado pelo governo,  os meninos já eram registrados como futuros soldados. Aquele que por infelicidade fosse portador de qualquer necessidade especial, seria arremessado imediatamente do alto de um penhasco. Fiquei horrorizado não externei a minha indignação, fiquei de pé em terra de sapo, senti que no pulsar das minhas veias correm o sangue latino de guerreiros Cristãos, os meus amados Pais. Foi graças a Humberto que desfrutamos de todas as aventuras e alegrias na Praia do Poço. Eles já partiram, nós estamos unidos cumprindo a promessa de nada faltar ao nosso querido irmão.


Quantas saudades. Boas lembranças!

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Antonio Carlos Neves Trigueiro

Tomou posse hoje (07/01/2020) no Comando do SERIPA / AM, meu sobrinho, Tenente Coronel Antonio Carlos Neves Trigueiro. A solenidade foi bastante prestigiada por familiares, amigos e companheiros de farda.






Um grupo de amigos de mais de 30 anos (João Paulo, Rodrigo, Edigar, Augusto e Bruno Nóbrega) dele, foram exclusivamente para Manaus, para participarem das festividades.