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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Humberto: 60 Anos

Humberto Meira Trigueiro (Beto) nasceu em 11 de dezembro de 1959, na cidade de Patos (PB), filho de Carlos Dantas Trigueiro e Leonor Meira Trigueiro. Era o fim de rama, como se diz no sertão, de prole de onze irmãos. O seu nascimento foi uma alegria na família e dos amigos mais próximos, com direito a muito licor, feito com frutas da região, tamarindo, jenipapo, maracujá entre outras.

Com o passar dos dias, meus pais, foram observando que alguma coisa não estava bem com o desenvolvimento de Humberto. Imediatamente procuraram os médicos da cidade, objetivando um tratamento para a enfermidade que impedia a sua perfeita coordenação motoras. Debalte! Humberto teve um doença rara, qual seu, kernicterus é uma complicação da icterícia neonatal que provoca lesões no cérebro do recém-nascido, quando o excesso de bilirrubina não é tratado de forma adequada. A bilirrubina é uma substância que é produzida pela destruição natural dos glóbulos vermelhos e seu excesso é eliminado pelo fígado na produção da bile. Foi uma pancada muito forte, porém a família não caiu, muito pelo contrário, se uniram cada vez mais e todos prestam assistência e carinho com ele. Hoje, comemoramos os 60 anos de vida. Uma confraternização familiar e com amigos dele.











sábado, 7 de dezembro de 2019

Como penso

Ontem (06/12/2019) participamos do lançamento do livro "Como penso" do meu amigo e membro da Academia Paraibana de Letras, Roberto Cavalcanti. Foi um evento muito prestigiado pela intelectualidade paraibana de pernambucana.


sábado, 30 de novembro de 2019

Centenário da Capela Nossa Senhora de Nazaré na Praia do Poço


APRESENTAÇÃO
Para o início do ano de 2020 foram reservados, certamente por desígnios da Providência Divina, dois marcantes eventos de caráter sócio-religioso com grande impacto no seio das Comunidades da Praia do Poço.
            Fundada em 1920, a singela Capela de Nossa Senhora de Nazaré estará completando 100 anos de existência, fazendo jus, pelo fato mesmo, a uma comemoração festiva e justa.
            O outro motivo de jubiloso congraçamento é o transcurso do primeiro aniversário da elevação da vetusta Capela à condição de Matriz da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, ocorrida  no dia 7 de janeiro de 2019, em memorável celebração campal, presidida pelo Arcebispo Metropolitano da Paraíba, Dom Manuel Delson, na qual o Padre Lucivaldo Eugênio de Souza foi sagrado seu primeiro Pároco. 
            Na definição das atividades e ações para as importantes efemérides, foi considerada a pertinência da edição de um produto gráfico contendo um resgate histórico dos acontecimentos que influíram na formação religiosa dos habitantes de nossa pequena faixa litorânea, desde o período da colonização até os dias atuais.
            A missão de executar esse trabalho de pesquisa para fins editoriais, foi confiada, por consenso, a dois dos mais antigos moradores da Praia do Poço, um dos quais, Antonio Smith, é detentor de um alentado e valioso acervo de cópias fotográficas, transcrições, reconstituições à bico de pena e depoimento de pessoas identificadas com os fatos, fruto de estudos a que tem se dedicado, com afinco, sobre a topografia e o processo de evolução histórica do litoral  Norte da Paraíba, com um foco especial sobre as ruínas da Igreja de Almagre.
            Além da análise do material disponível, os autores ainda utilizaram os recursos da tradição oral, valendo-se de depoimentos, alguns até gravados, de uns poucos remanescentes, descendentes diretos dos moradores primitivos.
            Comprometidos que somos com a verdade e a ética, informamos ao leitor que não logramos, infelizmente, acesso a documentos de comprovação incontestável e definitiva.
            Repassando versões e análises interpretativas, procuramos, tanto quanto possível, ser fiel à verdade histórica.
            Essa foi a contribuição possível. 
José Juvêncio de Almeida e Antonio Fernandes Smith 
                                 A PRAIA DO POÇO
A Praia do Poço, no litoral Norte da Paraíba contempla uma ampla enseada de mar calmo, guarnecida por uma generosa barreira de corais, que se situa geograficamente entre a Ponta de Campina e a Ponta de Camboinha, no município de Cabedelo.
Em função de suas características de balneabilidade, facilidade de acesso, opções gastronômicas e, principalmente, por sediar vários pontos de embarque para Areia Vermelha, ilha de utilização transitória conforme o ciclo de movimentos das marés, o fluxo de turistas é permanente, independentemente da estação do ano. 
A denominação de Praia do Poço não fica plenamente explicada pelos que se dedicam ao estudo da colonização na nossa costa norte. Uma maioria admite que a atual Praia do Poço foi batizada, originariamente de Almagre, que significa um tipo de argila de cor avermelhada, numa possível alusão à tonalidade do solo da Ilha de Areia Vermelha ou à Igreja de Almagre, construída em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré no final do Século XVI, hoje em ruínas e da qual abordaremos outros aspectos ao longo deste relato.
Levando em conta a qualidade da água, facilmente encontrada mas muito insalubre devido à proximidade do mar, Smith admite que o nome da Praia pode ter sido originado do encontro, em algum lugar, de uma cacimba ou poço que ofertasse um líquido de melhor potabilidade.  
De Almagre, a localidade passou a ser conhecida por Nazaré, numa extensão da homenagem à Santa, iniciada na Igreja de Almagre, nomenclatura que terminou sendo substituída por Praia do Poço, segundo alguns, por escolha do próprio povo.
As casas dos primeiros moradores da Praia do Poço, pescadores em sua quase totalidade, eram à beira mar, cobertura, contorno e divisórias trabalhadas em palhas de coqueiros e piso de areia da praia mesmo. Uns poucos se davam ao luxo do piso de barro batido.
Não tardou aparecerem pessoas interessadas em suas casas, visando, evidentemente, a localização à beira mar. Com isso eles foram negociando e adquirindo outro terreno mais para trás, numa prática que foi se repetindo até chegarem ao outro lado da rodovia.
O por que de Praia do Poço, também é motivo de controvérsia. Há quem remonte a origem “ao primitivo Sítio do Poço, uma vasta área de capoeira que ali existia, à beira mar, e, uma farta mata voltada para o poente”, descrição que corresponde perfeitamente à Praia do Poço que conhecemos, antes do advento do concreto e do asfalto. Há registro de que essa propriedade foi comprada, em 1857, pelo Padre Leonardo Antunes de Meira Henriques, passando a ser um povoado de pescadores,  muito freqüentado pelos veranistas.
Para outros o que realmente determinou a denominação que perdura até os dias de hoje, foi a existência na rodovia, hoje BR-230, á época simplesmente Estrada de Cabedelo, de um poço à antiga, dotado de corda e caçamba, situado no lado poente da pista, defronte do local onde hoje se encontra um posto de abastecimento de combustível, precisamente na área ocupada pelo viaduto em construção.
Alí, enquanto os usuários de transporte coletivo, poucos porque a maioria utilizava os trens da Great Western, aguardavam, debaixo dos cajueiros, os ônibus que faziam a linha Cabedelo-João Pessoa, os motoristas, com seus caminhões carregados de algodão ou sisal, tinham uma parada quase obrigatória  para, com a água do poço, reabastecerem os radiadores de seus veículos de acordo com o sistema de arrefecimento de motores vigente.
Para os estudiosos e ativistas das manifestações artísticas regionais, perdeu-se no tempo, certamente por falta de quem recolhesse e divulgasse o que se fazia na Praia do Poço, uma das mais belas e autênticas manifestações da cultura popular que era a dança do côco de roda.
Originário de Alagoas, não há registro de quem trouxe o ritmo e a dança afros para a Praia do Poço, mas é fato que lá eles encontraram terreno fértil para o seu desenvolvimento.
Sob palhoças ou mesmo à sombra dos cajueiros, chegamos a testemunhar, nos sábados da década de 50, em locais diferentes, até três rodas de dança do côco.
Alí predominavam, além do som convidativo do zabumba e do ganzá, que se ouvia à distância, alegria contagiante, improvisos por vezes irreverentes e, naturalmente,  muito suor e cachaça.
No início muito arredios, apenas observadores, os veranistas foram aos poucos se desinibindo e terminaram entrando na roda do côco, numa salutar confraternização com os nativos. Na verdade, demandou algum tempo para que isso acontecesse. Além da dança do côco, o futebol contribuiu muito para a superação da desconfiança existente e as disputas entre os times dos veranistas e dos praieiros se tornaram frequentes, amistosas e animadas.
Nunca chegou ao nosso conhecimento, notícia de nenhum conflito.  
IGREJA OU CONVENTO DE ALMAGRE ?  
            A despeito de hoje ser solenemente ignorada, a Igreja Velha,  como os veranistas da Praia do Poço dos anos 50 identificavam as ruínas de uma antiquíssima edificação localizada  nos limites daquele balneário com a praia de Ponta de Campina, era ponto obrigatório de visitação para os turistas que para lá convergiam sempre em grupos.
            Enquanto os moradores da Praia do Poço, permanentes ou temporários, cunharam essa denominação de Igreja Velha, as ruínas do Almagre recebiam da maioria dos que se dedicavam ao seu estudo, o tratamento de Convento ou Conventinho, o que, para Antonio Smith (co-autor e consultor deste trabalho), faz todo o sentido. Segundo ele, os missionários daquela época, no nosso caso os jesuítas, concentravam no mesmo espaço físico o ambiente de celebrações (Igreja) e seu ponto de moradia, recolhimento e meditação (Convento). Assim teríamos, simultaneamente, o Convento de Almagre e a Capela de Nossa Senhora de Nazaré, como, analogicamente, temos, na Capital, o Convento de São Francisco e a Igreja de Santo Antônio.  
            O fluxo de pessoas em demanda às ruínas de Almagre, certamente não era motivado por nenhum interesse histórico ou objetivo de pesquisa, mas pela ausência de maiores opções em termos de lazer e atrações turísticas.
            Os visitantes, jovens em sua maioria, não tinham um mínimo conhecimento de nossas origens históricas a ponto de atribuírem a edificação da Igreja Velha aos holandeses, desconhecendo que, além dos invasores não professarem a doutrina católica, há indícios de que o conventinho da Praia do Poço foi edificado, não se sabe por quem, posteriormente à rendição dos invasores  e consequente restauração do domínio português. 
            Essa tese foi aceita pelo falecido Heretiano Zenaide, veranista tradicional da Praia do Poço, político, industrial e escritor, autor de livros sobre flora e fauna do carirí paraibano que afirma, em carta a um amigo, ter feito inúmeras visitas ao conventinho ao tempo em que o mesmo se encontrava “em parte coberto de telhas e com o madeiramento grosso do soalho do primeiro andar em relativo bom estado”. Sua convicção se baseia no que o notável professor Coriolano de Medeiros deixou escrito em seu “Dicionário Corográfico do Estado da Paraíba, sobre a o povoamento da região: “Tem atualmente o nome de Nazareth em homenagem a um antigo convento, cujas ruínas atestam ainda que ali existiu o aldeiamento de Almagra (terra ou areia vermelha),  fundado pelos jesuítas antes da invasão holandesa”.
            Mesmo assim, por falta de documento definitivo e pela carência de esclarecimentos oferecidos pelas crônicas da época, perdura o mistério sobre a fundação do convento. Obra de alguma das ordens religiosas existentes ou iniciativa  de algum colono rico? 
            Em bandos alegres e barulhentos, os jovens, munidos de facas, canivetes e às vezes até de formões e escopos, tinham como objetivo maior, deixarem gravados, nas pedras seculares, os seus e os nomes das namoradas, complementados por dois corações entrelaçados e atravessados pela infalível flexa de Cupido. Para isso, escalavam perigosamente as seculares paredes, formadas por imensos e desgastados blocos de pedra calcárea, denominados, pelos do ramo, de cantaria.
            De acordo com documento arquivado no antigo Serviço do Patrimônio Histórico, Armário II, Gaveta 7, Pasta 226, a Igreja Velha tinha a seguinte configuração:
            “...... um retângulo medindo 26 metros de comprimento por 12 de largura. Sua altura poderia medir uns 12 metros. Sua frente está voltada para o norte. É isolada, rodeada de coqueiros, no meio de uma  vegetação baixa, dardejada de raios solares, regada das chuvas, batida pela viração do mar e pelo vento terral.
            A arquitetura da Igreja é toda de cantaria de pedra calcárea, em blocos de dimensões várias, ligados por argamassa de cal e areia e notável pela solidez de sua construção”.
            Há referências à existência de um nicho ou oratório com a imagem de uma santa e, na sacristia, damos o testemunho da presença de um golfinho, também trabalhado em pedra calcárea, de cuja boca  escorria água para a pia batismal. 
A lenda ou milagre do caçador 
            Onde quer que exista devoção muito fervorosa  a uma entidade religiosa, logo surgem e se multiplicam referências a milagres aos quais a tradição oral se encarrega de acrescentar detalhes e agregar contornos fantasiosos, terminando, com muita frequência, por se transformarem em lendas.
            A maioria dos milagres atribuídos pelos cristãos a Nossa Senhora de Nazaré estão relacionados com ocorrências náuticas como naufrágios e afogamentos, provavelmente por ser a devoção àquela Santa mais arraigada em localidades banhadas por mares e rios.
             No entanto, a mais famosa intervenção da Virgem de Nazaré, que se transformou em lenda que vem atravessando séculos, teria ocorrido distante das águas.
            Ficou conhecida como “o milagre do caçador”, segundo a lenda, a graça alcançada pelo fidalgo português Dom Fuas Roupinho, Almirante de Dom Afonso Henriques, durante uma caçada. Decorridos mais de quatro séculos, até a data em que aquele nobre foi salvo pela Virgem de Nazaré, 14 de Setembro de 1182, continua sendo lembrada.
            Naquele dia, fala a tradição, o fidalgo saiu para caçar sem levar em conta as péssimas condições climáticas. Galopando no  meio de denso nevoeiro, avistou um cervo e logo iniciou sua perseguição à rédea solta. Só se apercebeu que estava à beira de um abismo de cerca de 100 metros de profundidade, quando a caça nele se precipitou. Num relance, percebeu que não havia como parar o animal e lembrou que havia, nas proximidades, uma  gruta de N. S. de Nazaré. Mal acabou de invocar a proteção da Santa, o cavalo empinou abruptamente e se deteve, a pouca distância do precipício, apoiado apenas nas patas traseiras, o tempo suficiente para que o cavaleiro apeasse.
            No frontespício, hoje desabado, da Igreja de Almagre, havia um painel talhado em pedra, no formato de medalhão, objeto de nossa admiração quando criança, reconstituindo o salvamento de Dom Fuas. 
Até três décadas atrás era possível se observar no chão, à entrada das ruínas, fragmentos da escultura, severamente desgastadas pela ação do tempo e das intempéries, mas ainda sendo possível identificar as ancas do cavalo, a cabeça do cervo e parte de uma lança, possivelmente a arma utilizada na caça pelo fidalgo.
Um detalhe, lembrado por Smith, que sempre chamou nossa atenção nas visitas que fazíamos, era a existência de escavações de contornos e profundidades variáveis, algumas antigas outras recentes, a julgar pelo aspecto da terra espalhada em seu redor. Havia, na época, a crença de que muitas pessoas, na inexistência de cofres, bancos e outras formas de guardar seus haveres com seguranças, optavam por enterrar dinheiro, ouro ou joias, preferencialmente em locais que servissem de referência para um eventual resgate. Almagre era um deles e, por isso, se tornou alvo dos “caçadores de botijas”, categoria de aventureiros que, hoje, parece não mais existir. 
Por que em Ponta de Campina?
Como tudo o que se diz sobre a Igreja do Almagre, a escolha do local para sua edificação também é objeto de opiniões divergentes, sempre fruto de interpretações de crônicas antigas ou informações imprecisas legadas pela tradição oral, mas, nunca fundamentada em documento de autenticidade inquestionável.
Acredita-se que sua construção foi iniciada em 1580, na área então denominada Aldeia das Fronteiras. Para alguns, a escolha do local obedeceu ao critério de segurança, levando-se em conta a proteção natural que a cadeia de pedras e corais oferecia, além das dificuldades para a sua transposição, permitida apenas por passagens denominadas barretas, das quais a da Salema era a mais ampla e mais utilizada, embora o seu acesso não fosse conhecido por muitos. O relevo oceânico, com elevações arenosas conhecidas por coroas, era causa de encalhes frequentes de embarcações e considerado, por isso mesmo, mais um fator a ser considerado num  ataque por mar. Acrescente-se que, nessa possibilidade, a própria topografia do local de edificação da Igreja de Almagre tornava muito difícil a sua visualização.   
Essa preocupação defensiva era justificada pela ameaça permanente representada pelos belicosos potiguares, detentores de extenso território que ía de Lucena até o Maranhão.
Outros defendem a tese de que a escolha do local para construção da Igreja partiu dos religiosos jesuítas, que vieram com os colonizadores e aqui permaneceram por oito anos, preocupados com o nomadismo dos índios tabajaras e desejosos de fixá-los à terra.
            Ainda sobre as condições de navegabilidade na faixa litorânea compreendida entre as Praias do Poço e Ponta de Campina, Antonio Smith, co-autor deste trabalho, teve oportunidade de colher um depoimento de Alfredo Cardoso, pescador experiente, conhecedor minucioso de tudo o que existe sob as águas daquela região e filho de Carolino Cardoso, o Calú, de quem trataremos mais adiante.
            Revela Alfredo de Calú que, na juventude, acompanhou o encalhamento de muitas embarcações que, vindas do alto mar e desconhecendo o relêvo marinho, ficavam presas nos bancos de areia (coroas) e, na preamar, não encontravam o caminho de volta. Ensinando a saída pela barreta da Salema, Alfredo encontrou a maneira de faturar mais algum dinheirinho além do que lhe rendia a atividade de pesca.  
Situação atual
            Para quem costumava visitar a Igreja Velha com alguma frequência, fosse por lazer, estudo ou simplesmente por deleite, para admirar a sua bela cantaria, a sensação, diante da situação atual da histórica edificação, hoje reduzida a escombros, é de desprezo e devastação.
            Com as poucas paredes que ainda permanecem de pé escoradas por uma ostensiva trama de madeira, com a vegetaç ão a emergir em galhos viçosos por todas as frestas, com um tapume bloqueando a entrada de visitantes, morada muito provável de formigas, abelhas e maribondos, o cenário é desolador.
            Circulam rumores, sem elementos comprobatórios, evidentemente, que até imensos blocos de pedra calcárea foram fragmentados para serem utilizados como alicerce na construção civil.
            Tombadas pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1938, consta, segundo a Wikipédia que “em nossos dias, as ruínas se encontram em terras particulares, havendo um acesso provisório ao local desde o início de 2012, enquanto não se encerra a ação civil pública 0006513-602011.4.05.8200, em curso na 3ª Vara Federal, em João Pessoa”.  
                                                A CAPELA DA PRAIA DO POÇO 
            Com o aldeiamento de pescadores se formando na região da atual Praia do Poço, a Igreja de Almagre foi ficando abandonada e, segundo as crônicas, começou a arruinar no ano de 1918.
            O mato começou a crescer e invadir os espaços e, em pouco tempo, vieram os previsíveis e inevitáveis saques. Começaram por cima, levando telhas, a madeira de excelente qualidade que as sustentava e tudo o que foi possível, inclusive o assoalho de madeira do primeiro andar, que encantava o mestre Heretiano Zenaide.
            O povo, na iminência de um prejuízo maior, fez uma mobilização no sentido de trazer a Santa para a Praia do Poço, o que foi feito em memorável procissão que ficou conhecida como “procissão das pedras”. Isso porque a decisão coletiva foi de que a imagem seria entronizada num Oratório construído com pedras trazidas da Igreja de Almagre.
            O parceiro Antonio Smith, com seu obstinado espírito investigativo, conseguiu o depoimento de uma participante da chamada “procissão das pedras”, pessoa que cheguei a conhecer e com quem tive uma relativa convivência. Laura Cardoso Duarte, a Lalú, filha do já citado Carolino Cardoso, o Calú, afirmou que à época da procissão contava entre 5 a 6 anos de idade e que se submeteu a uma avaliação do tamanho da pedra que suportaria conduzir na cabeça.
            Tudo ocorreu de acordo com o que o povo decidiu e o Oratório foi construído, com pedras trazidas da Igreja de Almagre, em local doado por Carolino Cardoso (o Calú), defronte do atual Badionaldo. Evidentemente não chegamos a conhecer ou visitar o Oratório mas, ainda encontramos, quando crianças, um amontoado de pedras calcáreas que pressupunham sua existência no tempo devido.
            A Capela da Praia do Poço foi construída no ano de 1920, graças à generosidade de um veranista chamado Luna Pedrosa, que doou todo o material necessário para a sua construção no local onde ainda hoje se encontra, passando a abrigar, com mais segurança, a secular imagem que se encontrava, provisoriamente, no Oratório. (foto).
            Construída a Capela, a dificuldade passou a ser conseguir padres para ministrar os ofícios religiosos. Se nos dias de hoje o número de sacerdotes é insuficiente para atender a todas as comunidades, naquela época o problema era ainda muito maior. Dependíamos da disponibilidade do padre da Paróquia de Cabedelo ou da descoberta eventual de sacerdotes das mais diversas origens, em trânsito ou desfrutando de breves períodos de férias na Praia do Poço.
            Essa tarefa de identificar, localizar e conseguir trazer padres para as nossas celebrações eucarísticas, era cumprida, com extremada dedicação, por um homem do povo que se auto-proclamava primeiro sacristão da Capela de Nossa Senhora de Nazaré, desconhecendo-se de quem ele recebeu tal designação.
O sacristão João do Saco 
            No mínimo sessentão, magro, carapinha lanosa, pele encardida e enrugada, taquipsíquico e taquicinético, assim era João Francisco do Nascimento, o popular João do Saco, que conheci como sacristão da Capela de Nossa Senhora de Nazaré em fins da década de 50.
            Dizia ser marítimo mas nunca se aprofundou mar a dentro. Sua atividade principal era adquirir o produto da pesca dos jangadeiros e repassá-lo aos comerciantes, hoje conhecida como prática de atravessador ou intermediário, mas, na época, ele era tratado simplesmente como “pombeiro”, por ser visto à beira mar, todo final de tarde, sobraçando um enorme cesto, caminhando para um lado e para outro, prescrutando o horizonte e identificando cada pescador que voltava, mal a vela de sua embarcação se tornava visível.
            No ofício paralelo de sacristão, João do Saco era inexcedível. Buscava e conseguia padres, mantinha a Capela limpa, tocava o sino e organizava eventos beneficentes. 
            Era muito respeitado e gozava de grande prestígio junto ás autoridades mais graduadas que veraneavam na Praia do Poço, notadamente as da área da Justiça, o que lhe permitia fazer da festa de Nossa Senhora de Nazaré um evento de grandes proporções, tanto na parte litúrgica como na profana, com quermesse, banda de música e um inesquecível leilão, do qual ele era a atração maior como inspirado e divertido pregoeiro.
            Metódico e organizado, porém analfabeto, estava sempre a solicitar os nossos préstimos para colaborar com a Capela, redigindo ofícios e atualizando correspondência.
            Tudo corria sem nenhuma anormalidade até o dia em que a rotineira divisão entre o trabalho e as atividades da Igreja, tão bem administrada por João do Saco, foi abruptamente interrompida pelo seu misterioso desaparecimento, deixando, sem nenhuma explicação, a família, seus afazeres religiosos e seus parceiros no comércio de pescado.
            Quando foi revelada, a causa do desaparecimento do zeloso sacristão repercutiu de forma impactante no seio da pequena comunidade da Praia do Poço. Contrariando tudo o que se pudesse imaginar, João do Saco renunciou a tudo o que construíra até então, por amor. Perdidamente apaixonando por uma adolescente, menina de 15 anos, fugiu com ela para começar nova vida no interior de Pernambuco. 
              Durante pelo menos dois anos, nenhuma informação sobre o casal fugitivo até chegar uma única e definitiva notícia. Numa madrugada, caminhando pela margem de uma rodovia com destino a uma feira, João foi atropelado por um caminhão e morreu no local.
            Lenda ou verdade, durante muito tempo se falou, na Praia do Poço, que, no momento em que João do Saco expirava no interior de Pernambuco, o sino da Capela de N. S. de Nazaré badalou languidamente sem ser acionado por ninguém.
O sumiço da Santa
            Sem padre e sem sacristão, a Capela de Nossa Senhora de Nazaré, na Praia do Poço, acabou entrando num processo de compulsória inatividade interrompido, de vez em quando, pela chegada eventual de um celebrante.
            Nestas circunstâncias, a Capela era aberta por uma pessoa, detentora de uma chave de procedência ignorada, que poderia ter sido legada pelo próprio João do Saco, para fins de limpeza e manutenção, como também poderia ser consequência de uma prosaica troca de fechadura.
            Essa situação perdurou até os primeiros anos da década de 1960, quando o Padre Alfredo Barbosa, que havia sido nomeado primeiro pároco de Cabedelo há alguns anos, resolveu conferir uma certa regularidade às atividades da Capela da Praia do Poço, tomando para si a responsabilidade da celebração da missa dominical, inicialmente.
            Ao abrir a Capela para uma avaliação do que poderia dispor para a reativação dos procedimentos litúrgicos, o virtuoso sacerdote se deparou com uma desagradável e terrível surpresa: a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, a mesma que veio de Portugal no século XVIII e trazida em procissão  desde a Igreja do Algarve até ali, havia desaparecido do altar. 
            Esse lastimável episódio suscitou, na época, uma sequência de rumores e insinuações que preferimos deixar à margem deste trabalho por se situarem num campo meramente especulativo, sem nenhuma fundamentada comprovação.

sábado, 23 de novembro de 2019

Lisboa: 2019

A nossa última viagem para a Europa, teve como objetivo de conhecer parte da Riviera Francesa, precisamente as cidades de Nice, Eze, Mônaco e Saint-Tropez, conforme postagens anteriores, como também visitar Lisboa, onde residem atualmente, meus sobrinho e afilhado, Osvaldinho e sua esposa Larissa. Também iríamos passar um dia com os sobrinhos netos, Miguel e André, filhos do português Gonçalo Vicente e Chris, que estavam visitando famíliares portugueses. Comemoramos também o aniversário de André que completou três anos.


Pela quinta vez fomos a Lisboa e nesses últimos dois anos, escolhemos ficar hospedados nas margens do Rio Tejo, no Parque das Nações construído para a Exposição Mundial de 1998. O projeto dessa área visava a revitalização urbana, que transformou essa área que era poluída e decadente em um mostruário da moderna arquitetura. 

Lá se encontra a Gare, o Oceanário, o shopping Vasco da Gama, o bondinho, além de bons restaurantes, cafés, lojas sofisticadas, sede empresas nacionais e multinacionais, cinemas, parques, centro de convenção, teatros, entre outras belas atrações. Ficamos mais uma vez hospedados no Hotel Tivoli, onde já somos considerados de casa hoteleira.