“Não sou de me exibir nem falar do meu dia-a-dia profissional. Exerço o meu trabalho com um senso de dever e por paixão, não como um instrumento de exibição de virtudes ou de autoelogio em redes sociais.
Hoje, fiquei muito triste, com alguns acontecimentos e decidi desabafar. Logo quando começaram a aplaudir os profissionais de saúde no combate da pandemia, pensei cá comigo ‘quanta hipocrisia’! Digo isso não só porque estou na linha de frente de combate à pandemia, mas por trabalhar no Hospital Oswaldo Cruz em Recife há mais de 10 anos. Sempre fomos tratados com desprezo pelos gestores públicos, não somos valorizados e respeitados, somos mal-remunerados. Os hospitais públicos são sucateados e nunca existiram leitos de UTI disponíveis para quem precisava, principalmente para menos necessitados. Hoje fiquei ainda muito triste por saber que já estão faltando EPIs no hospital (estavam utilizando capas de chuva!). Pra completar, num momento em que mais estamos física e psicologicamente abalados, leio vários relatos de preconceitos contra nossa classe em condomínios residenciais, tratando-nos como portadores responsáveis pela transmissão dessa praga terrível que se espalhou no nosso planeta – terra. Tudo isso me faz pensar na fragilidade mental da sociedade! Um povo que não sabe o que é passar dificuldade de verdade, que vive desconectada do mundo, só sabe o que acontece em sua própria bolha, quando sabe!.
Vejam a postura: fala em salvar vidas mas é autoritária, fala em solidariedade mas quer todo mundo longe.
Todos nós sentimos medo. É inerente ao ser humano quando é ameaçado. E o medo é também salutar na vida de todo ser humano. Mas o medo não pode lhe paralisar, muito menos lhe tornar um ‘não-humano’. Fico triste sim, porque vejo que valores como coragem, respeito, honra, verdade, ética, e esperança andam meio fora de moda.
Esse tipo de comportamento que vemos nestes condomínios é típico de gente que tá deixando de ser gente, por se deixar levar pelo clima de pavor implantado na sociedade por aquelas pessoas que sempre torcem pelo ‘quanto pior melhor’. Sinto-me a Gení, da música Gení e o Zepelim do outrora querido Chico Buarque. Muito triste !
(*) Minha querida sobrinha, médica, casada e mãe de duas lindas crianças.