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segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A lâmpada do cinema

Cine Eldorado
Nasci e me criei na Rua Pedro Firmino, 110, cidade de Patos, sertão da Paraíba. Em frente a nossa casa funcionava o Cine Eldorado, cujos proprietários eram os senhores Joaquim Araújo e Agripino Cavalcanti.
Meus pais era amigos dos casais seus Joaquim e Agripino. Papai, além de o titular do Cartório de Registro de Imóveis e Notarial da cidade, era também representante da SBAT – Sociedade Brasileira de Direitos Autorais e Teatrais.
Pela amizade fraternal dos meus pais com as famílias dos proprietários do Cine Eldorado, todos nós tínhamos entradas gratuitas ao cinema. Portanto, praticamente assistíamos todos os filmes exibidos naquele estabelecimento.
Papai adorava cinema. Meu avô Sindou Trigueiro foi o primeiro proprietário do cinema de Guarabira, no brejo paraibano. Seus filhos, inclusive papai, eram os músicos da orquestra que animava a sala de exibição, já que na época os filmes eram mudos. Lembro-me muito bem que papai tinha uma cadeira cativa no cinema. Muitas vezes ele ia ao cinema só para tirar um soneca
Eu e meus irmãos e irmãs também adorávamos cinema. As minhas irmãs só gostavam de namorar no cinema. O motivo talvez seja pelo escurinho ou porque na realidade elas gostavam de cinema.
Lembranças saudáveis é salutar para a alma. Algumas tardes quando já tinha cumprido minhas obrigações escolares ia visitar seu Agripino na sua sala instalada no cinema. Muitas vezes, ele me explicava detalhes como eram feitos os filmes, a logística de distribuição, a escolha das locações, a performance dos artistas, a iluminação, entre outras coisas. Me dava também pedaços de fitas (películas) que tinham sido quebradas durante as exibições. Guardava com todo cuidado.
Osvaldo Meira Trigueiro
Bom, voltando ao título deste texto. Osvaldo, meu irmão, teve uma ideia de fazer um cinema. Ele pegava uma lâmpada com filamento de tungstênio que tem as seguintes características técnicas: bulbo de vidro transparente, haste com o filamento de tungstênio e a base da lâmpada. Retirava a haste com o filamento e a base da lâmpada com muito cuidado. Em seguida, enchia a lâmpada com água. Fez uma base retangular de madeira onde colocava os pedaços da fita. E, com uma lanterna focando sobre a fita que ficava entre a moldura e o bulbo projetava num lençol branco pregado na parede. Era um sucesso! Os amigos pagavam cinco fósforos queimados ou notas de carteiras de cigarros para adentrar no cinema de Osvaldo.

Papai gostou tanto da ideia e, numa de suas visitas, ao Recife adquiriu um projetor de cinema de 8mm, e três rolos de filmes, quais sejam: Tarzan na Selva, Carlitos (Charles Chaplin) e os Três Mosqueteiros. Sucesso total! Todas as quartas-feiras era exibido um filme. Dessa vez o pagamento para os amigos assistir os filmes não eram mais fósforos queimados ou notas de cigarro, e sim um quilo de um alimento não perecível que Osvaldo distribuía no Círculo Operário para que fossem entregues ao flagelados da seca no sertão.

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