Por Leonardo
Antonio Dantas.
O
lança-perfume foi a grande invenção do Carnaval Brasileiro. Tendo surgido em
1906 no Rio de Janeiro, logo veio dar uma aura toda especial às festas de momo
de norte e sul deste imenso país do carnaval.
Surgiu
com grande publicidade, sendo distribuídos em três apresentações — dez, trinta
e sessenta gramas — pela Casa Davi do Rio de Janeiro. Fabricado na Suíça pela
Rodo, aquelas ampolas de cloreto de etila, especialmente perfumadas, fizeram
época em nosso carnaval.
Em 1911
eram consumidas no Brasil 300 libras do produto e só a Rodo-Suíça para aqui
exportara a elevada quantia de 4.500 contos de réis!
Tal
mercado veio a despertar a atenção daquela empresa, que logo enviou ao Brasil
um seu representante, sr. J. A. Perretin, a fim de assistir às festas do
carnaval do Rio de Janeiro daquele ano.
Em
entrevista à Gazeta de Notícias, transcrita parcialmente por Eneida (op. cit.),
o sr. Perretin declarou: “Um povo que faz um carnaval como este é o povo mais
alegre do mundo”.
Porém logo o espírito do entrudo se fez presente. O que antes servia como corte
às damas, que tinha por objetivo perfumar e agradar o sexo oposto veio a
transformar-se em arma: munidos do lança-perfume, alguns foliões passaram a
esguichar o seu líquido visando, sobretudo, os olhos das pessoas. A fim de se
defender dos esguichos dos lança-perfumes, surgiram no comércio óculos de
celuloide e, na imprensa, toda a sorte de protestos contra esta forma estúpida
de viver o carnaval.
A nova
descoberta caiu no gosto dos foliões brasileiros. O mercado consumidor crescia
a cada ano, motivando o aparecimento de novas marcas — Geyser, Nice, Meu
coração, Pierrot, Colombina, etc. —, algumas delas assinadas pelos célebres
perfumistas Lubin e Pinaud.
Até o
Recife veio dispor de uma fábrica de lança-perfumes, Indústria e Comércio
Miranda Souza S.A., localizada na Rua da Aurora, responsável pela produção das
marcas Royal e Paris.
Um
inconveniente, porém, acompanhava o produto e era causa de constantes acidentes
entre os seus usuários: os recipientes que continham o éter perfumado sob
pressão eram de vidro. Em 1927, objetivando sanar tal deficiência, a Rodo
lançou no mercado o seu lança-perfume metálico.
Apresentado
em invólucros de alumínio dourado, o novo produto recebeu a marca Rodouro, o
que não impediu que se continuasse a produzir com preços inferiores
lança-perfumes em recipientes de vidro.
Naquele
ano o consumo do produto atingia, segundo a imprensa carioca, a casa das 40
toneladas e no Recife, anos depois, as suas virtudes eram assim anunciadas:
Um
perfume suave eu espalho,
Sou distinto, perfeito, não falho.
Sou metal e no chão não estouro.
Sou o lança-perfume Rodouro.
O que
era brinquedo romântico, inofensivo e barato, passou a ter outra destinação.
Segundo denúncia da imprensa carioca, no carnaval de 1928, o conteúdo do
lança-perfume passou a ter objetivos outros: “... o éter fantasiado de
lança-perfume é sorvido com escândalo pelo carnaval. No vício legalizado, o
Brasil consome quarenta toneladas do terrível entorpecente. Essa quantidade de
anestesia daria para abastecer todos os hospitais do mundo”.