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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Lança Perfume

Por Leonardo Antonio Dantas. 
O lança-perfume foi a grande invenção do Carnaval Brasileiro. Tendo surgido em 1906 no Rio de Janeiro, logo veio dar uma aura toda especial às festas de momo de norte e sul deste imenso país do carnaval. 

Surgiu com grande publicidade, sendo distribuídos em três apresentações — dez, trinta e sessenta gramas — pela Casa Davi do Rio de Janeiro. Fabricado na Suíça pela Rodo, aquelas ampolas de cloreto de etila, especialmente perfumadas, fizeram época em nosso carnaval.

Em 1911 eram consumidas no Brasil 300 libras do produto e só a Rodo-Suíça para aqui exportara a elevada quantia de 4.500 contos de réis! 
Tal mercado veio a despertar a atenção daquela empresa, que logo enviou ao Brasil um seu representante, sr. J. A. Perretin, a fim de assistir às festas do carnaval do Rio de Janeiro daquele ano. 

Em entrevista à Gazeta de Notícias, transcrita parcialmente por Eneida (op. cit.), o sr. Perretin declarou: “Um povo que faz um carnaval como este é o povo mais alegre do mundo”.
Porém logo o espírito do entrudo se fez presente. O que antes servia como corte às damas, que tinha por objetivo perfumar e agradar o sexo oposto veio a transformar-se em arma: munidos do lança-perfume, alguns foliões passaram a esguichar o seu líquido visando, sobretudo, os olhos das pessoas. A fim de se defender dos esguichos dos lança-perfumes, surgiram no comércio óculos de celuloide e, na imprensa, toda a sorte de protestos contra esta forma estúpida de viver o carnaval. 

A nova descoberta caiu no gosto dos foliões brasileiros. O mercado consumidor crescia a cada ano, motivando o aparecimento de novas marcas — Geyser, Nice, Meu coração, Pierrot, Colombina, etc. —, algumas delas assinadas pelos célebres perfumistas Lubin e Pinaud. 

Até o Recife veio dispor de uma fábrica de lança-perfumes, Indústria e Comércio Miranda Souza S.A., localizada na Rua da Aurora, responsável pela produção das marcas Royal e Paris.

Um inconveniente, porém, acompanhava o produto e era causa de constantes acidentes entre os seus usuários: os recipientes que continham o éter perfumado sob pressão eram de vidro. Em 1927, objetivando sanar tal deficiência, a Rodo lançou no mercado o seu lança-perfume metálico. 

Apresentado em invólucros de alumínio dourado, o novo produto recebeu a marca Rodouro, o que não impediu que se continuasse a produzir com preços inferiores lança-perfumes em recipientes de vidro.

Naquele ano o consumo do produto atingia, segundo a imprensa carioca, a casa das 40 toneladas e no Recife, anos depois, as suas virtudes eram assim anunciadas: 
Um perfume suave eu espalho,
Sou distinto, perfeito, não falho. 
Sou metal e no chão não estouro. 
Sou o lança-perfume Rodouro.


O que era brinquedo romântico, inofensivo e barato, passou a ter outra destinação. Segundo denúncia da imprensa carioca, no carnaval de 1928, o conteúdo do lança-perfume passou a ter objetivos outros: “... o éter fantasiado de lança-perfume é sorvido com escândalo pelo carnaval. No vício legalizado, o Brasil consome quarenta toneladas do terrível entorpecente. Essa quantidade de anestesia daria para abastecer todos os hospitais do mundo”.

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