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terça-feira, 8 de março de 2011

Momentos inesquecíveis do Carnaval de João Pessoa

Osvaldo Meira Trigueiro
Professor e pesquisador aposentado do DECOM/PPGC/UFPB
Membro da Comissão Paraibana de Folclore/ 
Rede Brasileira de Pesquisadores da Folkcomunicação

Quando recebi o convite para escrever um artigo contando a história da minha experiência inesquecível em um carnaval em João Pessoa sabia que estava entrando numa sinuca de bico por que seria difícil escolher o meu carnaval inesquecível em João Pessoa. Qual foi e quando foi essa festa de momo que tanto marcou a minha vida? Eu venho lá do sertão de Patos das Espinharas, onde passei boa parte da minha infância e adolescência, foi lá que também passei inesquecíveis carnavais animados pelo grande festeiro Seu Trigueiro, meu pai, que foi por muitos anos Rei Momo, fundador e diretor do tradicional bloco de rua “Saca Rolha”. Os Trigueiros de Patos são festeiros têm como maior celebração o carnaval e assim fui criado em uma família de animadores e brincantes de carnaval.

As famílias Trigueiro, Peixoto, Smith, Chaves, Rolim, Guimarães, Ribeiro e tantas outras de veranistas da Praia do Poço, nos anos 60 do século passado, animavam o carnaval de João Pessoa realizando prévias como o Grito de Carnaval em Areia Vermelha e o Banho a Fantasia, sem dúvida dois eventos “termômetro” para animação do carnaval pessoense, eram prévias tão aguardadas quanto o Vermelho e Branco realizado pelo Clube Cabo Branco.  João Pessoa se deslocava quase toda para a Praia do Poço durante a festa do Banho a Fantasia para participar ou mesmo simplesmente para observar os desfiles dos blocos ou para esperar o grande momento do julgamento e anúncio dos blocos vencedores. Os organizadores dos blocos escondiam, a sete chaves, o tema de sua fantasia até os minutos iniciais do desfile.  
Uma das muitas experiências inesquecíveis do carnaval em João Pessoa foi sem dúvida o Banho a Fantasia de 1969 quando o nosso bloco “Os 10 Cabaçados” ganhou o prêmio de originalidade (o bloco era composto por 10 jovens veranistas vestidos com uma túnica branca e com uma cabaça pendurada no pescoço por um barbante e atrás da túnica escrito os 10 Cabaçados. Assim, se continuava mantendo a tradição da família Trigueiro nos concursos de blocos do Banho a Fantasia da Praia do Poço, por que Seu Trigueiro já tinha sido várias vezes campeão e quase sempre em competições “acirradas” com o seu grande amigo e festeiro do Poço - Seu Peixoto.

Mas, não poderia encerrar esse depoimento sem lembrar outra experiência inesquecível no carnaval de João Pessoa em 1981 quando era coordenador do NUPPO – Núcleo de Pesquisa e Documentação da Cultura Popular da UFPB, em companhia dos pesquisadores José Nilton da Silva, Tenente Lucena e do cineasta Alex Santos que durantes os três dias dos festejos de momo daquele ano realizamos um documentário em fotografia, em áudio, e em Super-8 da Tribo Indígena Africanos da Torre. É bom lembrar que na época não tínhamos, ainda todas essas novas tecnologias que dispomos atualmente.  Foi uma ação inovadora, para quem pesquisava na universidade, e por isso mesmo fomos criticados por alguns colegas da academia que achavam sem propósito o objetivo da nossa pesquisa. Com todas as dificuldades os registros foram feitos e estão até hoje disponíveis no acervo do NUPPO e atualmente interessam a vários pesquisadores da universidade e de outras instituições. Foram momentos de grandes aprendizados e de significações profissionais para todos nós professores, pesquisadores dos festejos populares e principalmente das manifestações culturais do carnaval.  Portanto, são duas instâncias de experiências inesquecíveis do carnaval em João Pessoa, a primeira nos anos de 1960 como mais um dos brincantes, como mais um dos festeiros e na segunda instância, nos anos de 1980, como observador, estudioso dos nossos carnavais, o que venho fazendo há mais de 30 anos. O carnaval é uma das manifestações culturais que continua marcando momentos importantes em todo o curso da minha vida, a cada festa de momo emergem novas experiências inesquecíveis.           

2 comentários:

  1. É isso aí Carlos, agora doeu na Alma! Lembrar o Saca Rolha, ´Seu Trigueiro, como Osvaldo fala em seu texto tão bem escrito e oportuno, é virar pelo avesso um tempo que me fez tão Feliz!Lembrar ainda em seu discurso o grande amigo José Nilton, a quem não vejo há tanto tempo. Valeu Osvaldo! Valeu Carlos!

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  2. Muito obrigado amigo. Valeu a lembrança. Abs, Palmari

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