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domingo, 25 de maio de 2014

Para meu sobrinho Napoleão

Napoleão Nápoles
Não pode ser nordestino

(Artigo de Roberto Cavalcanti publicado no Jornal Correio da Paraíba)

Uma operação nada sutil está em curso nos editoriais da grande mídia, especialmente os produzidos a partir de São Paulo.


Surgiu de repente, mudando a mira da metralhadora que despeja, sobre a população, estratégias de convencimento eleitoral.


Se antes todos os canhões estavam apontados para a atual ocupante do Palácio do Planalto, o foco central da guerra midiática mudou nos últimos dias de direção.


Estão, agora, com as coordenadas reprogramadas para o Nordeste. E têm, como objetivo, impedir as chances de competitividade de Eduardo Campos, o presidenciável pernambucano que surge, ao lado da nortista Marina Silva, como terceira via na corrida pelo comando do Planalto Central.


A mídia decidiu que Dilma e Aécio é que devem estar no segundo turno, alijando o pernambucano do processo.


Os pecados de Campos e Marina? Não serem representantes das elites do eixo Café com Leite, que durante tanto tempo mandou no País e que quer, a todo custo, voltar ao poder.


As provas do que digo são substanciais. Podem ser verificadas e analisadas, dia após dia, edição após edição, nas páginas de veículos como Veja, Folha de São Paulo e Estadão.

Para esses grupos, o Nordeste deve continuar como primo pobre, que sorve migalhas como se degustasse banquete, enquanto o filé mignon econômico segue sendo traçado nas mesas tradicionais.


E eles não estão nada satisfeitos com o inquestionável crescimento (e aqui peço, mais uma vez, para que não interpretem minhas observações com viés exclusivamente político) da região nordestina.


O primo já não é tão pobre.


Nos últimos anos, o Nordeste teve crescimento diferenciado, especialmente em relação ao Sudeste.

Pode-se até ponderar que é fácil crescer cem por cento quando não se tem nada além de carências acumuladas através de séculos de desequilíbrios regionais.


Mas também são inquestionáveis que estamos sendo contemplados com um pacote de ações que estão, efetivamente, diminuindo as distâncias (e instâncias) de desenvolvimento.



Desde a instituição da Sudene e do pragmatismo filosófico de Celso Furtado, nosso crescimento passou a ser palpável e mais sustentável, posto que não se baseia mais em esmolas como as distribuídas nas frentes contra as secas.


A industrialização se consolida no embalo dos incentivos regionais.

E ganha novo fôlego com o concomitante crescimento do turismo e dos investimentos em infraestrutura.


E mesmo todas as bolsas – ainda que não produtivas –, acabaram por viabilizar, junto com outras ações, a exemplo da melhoria do Salário Mínimo, a saída em massa dos nordestinos de históricos bolsões de pobreza.


Roberto Cavalcanti
Estas novidades que alteram a fisionomia nordestina – queira ou não – tem conexão com a gestão de Lula e seu DNA de retirante nordestino que conseguiu subir a rampa do Palácio do Planalto.


E o jornalismo café com leite faz esta leitura.


Leem tão bem que não desejam assistir, com Campos e Marina, cenas análogas nos próximos capítulos da República.



Para estas oligarquias, pode tudo. Menos ter, de novo, um nordestino no poder.

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