POLYUTIL S/A
O Professor Tarcísio de Miranda Burity governou o Estado da Paraíba por duas vezes. Na primeira vez, em 1975, por eleição indireta, como ocorria na época, em substituição ao então Governador Ivan Bichara. Na segunda vez, em novembro de 1986, pelo PMDB, foi eleito por sufrágio direto com expressiva votação, permanecendo à frente do executivo paraibano de março de 1987 a março de 1991.
Na campanha para a sua reeleição, um grupo empresarial, liderado por Roberto Cavalcanti, à época, diretor, da Polyutil e do Sistema Correio de Comunicação, procurou a agência de publicidade GCA Comunicação Ltda., então, liderada pelo Diretor Presidente, Genival Ribeiro e pelos sócios diretores Alberto Arcela e Milton Nóbrega. Arcela era o Diretor de Criação, e Milton, Diretor de Artes Gráficas.
Há cerca de dois anos, eu prestava serviços, na empresa, como freelance, pois, como professor da UFPB, estava impedido de exercer funções executivas. Meus serviços eram de assessorar a agência na prestação de serviços profissionais, nas áreas de planejamento, marketing e pesquisas.
Após vários entendimentos entre o grupo empresarial e a agência, o negócio foi fechado. Caímos em campo, praticamente, em tempo integral. Iniciamos os trabalhos realizando pesquisas de opiniões em grupos de focos, na busca de entender o cenário atual da campanha eleitoral.
A partir dessas pesquisas, começamos a traçar o planejamento da campanha. Preparamos o plano de marketing, assim como o layout do material publicitário. Voltamos a realizar novas pesquisas de opinião e de grupos de discussão para uso interno da agência. Por fim, elaboramos as estratégias políticas e eleitorais da campanha. Terminado o trabalho solicitamos uma reunião com o grupo de empresários, tendo à frente o Sr. Roberto Cavalcanti.
Nessa reunião, apresentamos o plano de campanha para a reeleição do Governador Burity. O plano foi aprovado. Após a reunião, conheci Luiz Guilherme Chada, na época, superintendente da Polyutil. Ele era graduado em Administração de Empresas, com especialização em Finanças e Marketing, além de muita capacidade de liderança. Conversamos bastante, regados por algumas doses de uísque e muito tira-gosto, firmando, a partir daí, uma grande amizade. Num dado momento, Chada me convida para conhecer a fábrica Polyutil, localizada no Distrito Industrial de João Pessoa. A visita foi marcada para oito dias após esse encontro.
No dia marcado quando cheguei a Polyutil estavam me esperando o Chada e Roberto Cavalcanti. Começamos a conversar e trocar ideias sobre diversos assuntos econômicos, de mercado, sociais etc. Num determinado momento Roberto pergunta quem eu sou! Identifico-me explicando que sou professor concursado da Universidade Federal da Paraíba, onde leciono as disciplinas de marketing e pesquisas de mercado, nos cursos de graduação e pós-graduação de Administração de Empresas, como também sou pesquisador do CNPq. Surpreso, recebi o convite de Roberto, para trabalhar com eles.
Ora, conhecer como funciona uma empresa e, sobretudo, vivenciar o dia a dia de uma organização empresarial, para mim, era uma grande oportunidade, mormente, que eu poderia aplicar a teoria à prática e, sobretudo, levar a experiência empresarial as salas de aulas na UFPB e posteriormente na UNICAP.
Aceitei, é claro, o convite, porém, com a condição trabalhar só um expediente, devido minhas atividades acadêmicas serem pela manhã e à noite. Ele concordou e logo em seguida comecei a trabalhar na empresa, à tarde, assumindo o cargo de Gerente de Marketing da Polyutil. Isto aconteceu no ano de 1990. Fiquei na empresa por cerca de quatro anos.
A Polyutil era instalada no Distrito Industrial de João Pessoa, as margens da BR 101 sentido João Pessoa/Recife e fundada na década de setenta. Foi pioneira, na região, na transformação de resinas plásticas em produtos industrializados, nas linhas de utilidades domésticas e de embalagens (garrafeiras e caixas agroindustriais).
Eu era o único gerente que trabalhava um expediente, com exceção das quintas-feiras, quando eu almoçava na empresa, pois, logo após o almoço, nas duas horas seguintes, era realizada uma reunião de trabalho com os diretores e gerentes.
Com exceção de José Fernandes Diretor do Sistema Correio de Comunicação, e de Alexandre Jubert, assessor para a área econômica e projetos especiais, os demais gerentes eram oriundos de outros estados do país, alguns, até do exterior. - Luiz Chada, Superintendente era Alagoano; Salsa, Gerente Financeiro, pernambucano; Tadeu, Gerente Administrativo e de Recursos Humanos, pernambucano; José Luiz, Gerente Comercial, pernambucano; Dina Torti, Secretária Executiva, italiana; e Serginho, Gerente Industrial, paulista, que depois foi substituído por Altair, também paulista.
Era uma equipe bastante unida e profissional. Todos possuíam cursos de Graduação e Pós-Graduação em suas áreas de habilidades e competências. Tínhamos a grande virtude de sob a liderança do presidente, Roberto Cavalcanti, compartilhar todas as estratégias e táticas da empresa.
Alguns fatos marcaram minha atuação na empresa os quais destaco: por ser neófito na área empresarial aprendi muito com os ensinamentos do meu amigo Luiz Chada e, em especial, de Roberto Cavalcanti. Após seis meses de trabalho, já dominava os assuntos relativos à gestão de negócios. Isso foi muito bom, pois comecei a aplicar em salas de aulas. Meu prestígio junto ao alunado, tanto da graduação quanto na pós-graduação aumentou significativamente, pois conseguia fazer a interação entre a prática e a teoria, tanto é que fui por diversas vezes homenageado pelas turmas concluintes.
A mesma coisa aconteceu quando fui lecionar na UNICAP – Universidade Católica de Pernambuco.
Como gerente de marketing criei etiquetas para serem colocadas nos produtos da linha de utilidades domésticas. A Polyutil foi pioneira nessa ação de marketing. Realizávamos reuniões, workshops e cursos com os representantes da empresa, gerentes e funcionários graduados, objetivando introduzir o conceito de marketing como filosofia de trabalho. Sempre destacando que essa atividade era fundamental para conquistar e manter clientes, uma vez que até então, os representantes e a maioria dos gerentes, só sabiam vender por vender! Foi um trabalho acadêmico e que funcionou perfeitamente na organização.
Coordenamos a criação e produção de um catálogo em quatro cores, com fotos ilustrativas de todos os produtos das linhas de utilidades domésticas e embalagens, juntamente, com a agência Real Publicidade dos irmãos Joca e Chicó Moura. Este catálogo era uma antiga reinvindicação dos representantes da empresa; um mostruário dos produtos que os representantes apresentavam aos compradores. O trabalho ficou muito bonito e prático. Um sucesso!
Solicitei a Roberto Cavalcanti que me autorizasse fazer assinaturas de revistas que tratava de assuntos femininos. Ele me perguntou: “para quê?” Respondi: “para saber o que as mulheres estão pensando sobre as cores dos produtos em suas cozinhas”. Fui autorizado na hora. Passei várias tardes folheando e lendo artigos dessas revistas. Alguns colegas passavam e olhavam meio desconfiados! Comecei a pesquisar e identificar nesses artigos, as tendências de cores que estavam sendo modificadas nos produtos destinados para cozinhas e áreas de lazer.
As cores dos produtos da linha de utilidades domésticas já havia bastante tempo que não mudavam. Então, propus ao gerente industrial, Altair, a começar as mudanças identificadas. Ele, a princípio, rejeitou minha proposta, pois, havia um estoque muito grande de resinas nas cores antigas.
Então, conversei com Saulo, subgerente industrial, formado em Química Industrial, com especialização em resinas plásticas. Expliquei o projeto e ele apoiou a ideia. Nas horas de folga, nos intervalos do almoço, Saulo começou a realizar teste misturando as resinas existentes. A primeira coisa que eu fazia, quando chegava à fábrica, era ir ao encontro de Saulo, em seu escritório que ficava no “chão da fábrica”, para saber como andava o projeto das cores.
Depois de meses de trabalho e de acertos e erros, Saulo conseguiu obter as misturas com as resinas existentes, na empresa, para as novas cores a serem utilizadas nas geladeiras, fogões, freezers, liquidificadores etc. Mais um sucesso! Lembro-me muito bem que após o expediente eu e ele fomos comemorar na churrascaria Gaúcha, que ficava próxima a empresa.
Numa das convenções da empresa realizada num hotel, na Ilha de Itamaracá – Pernambuco (a Polyutil foi uma das pioneiras a adotar esse tipo de evento na Paraíba), eu e Saulo, preparamos algumas gôndolas de supermercados com as amostras dos produtos da linha de utilidades domésticas já com as novas cores, e, numa apresentação teatral, mostramos aos presentes. Aprovada a ideia, a linha de utilidades domésticas foi modificada e bem aceita no mercado. Tanto é que logo depois, fomos copiados pelas grandes empresas do setor, que modificaram as cores dos seus produtos.
Outro fato que merece ser destacado ocorreu quando o Presidente Collor assumiu o governo e “confiscou” a poupança, entre outras medidas catastróficas para o setor econômico do país, dificultando, assim, a atividade empresarial como um todo. O setor empresarial teve sérios problemas mercadológicos e financeiros. Muitos faliram.
A população não tinha dinheiro e o mercado parou completamente. Foi um desastre nacional. Lembro-me bem, de todos os diretores e gerentes no gabinete de Roberto Cavalcanti, assistindo a três televisores, lendo nos jornais, as notícias do confisco e, ao mesmo tempo, discutindo como sair da crise. As crises de mercado são cíclicas e no normal, decorrentes de políticas populistas de governos despreparados para gerir o país, principalmente, como o Brasil, um verdadeiro continente, com sérios desequilíbrios regionais e com uma imensa deficiência no setor de mão de obra qualificada.
Roberto Cavalcanti, sempre com a cabeça a mil, como dizem os matutos de Patos, teve uma ideia de que consistia no seguinte: reduzir a margem de lucro dos produtos das linhas de produção, já que grandes estabelecimentos, como supermercados e lojas de departamentos não estavam comprando nada, inclusive, as fábricas de bebidas. O estoque de produtos era alto, ninguém esperava uma atitude tão radical de Collor. Então, ele colocou todo o estoque nos jardins da empresa e fez uma grande promoção de vendas.
Usou o Sistema Correio de Comunicação para divulgar a promoção que se transformou numa corrida. Havia até briga entre os consumidores para adquirir os produtos da Polyutil. De paliteiros a caixas de embalagens eram disputadas pelas pessoas. Os comerciantes compravam os produtos e iam comercializar nos seus pequenos estabelecimentos nos diversos bairros das cidades. Caminhões com alto-falantes saiam às ruas vendendo os produtos da Polyutil. A marca aumentou a visibilidade. Filas enormes começavam logo cedo da manhã até o fim da tarde.
Em determinado momento foi preciso distribuir senhas para as pessoas ter acesso à fábrica. Foi necessário a Secretaria de Finanças do Estado colocar um posto para tirar e controlar as notas fiscais. Saímos da crise estabelecida pelo Governo Collor, com altivez. Os gerentes e funcionários trabalharam incansavelmente para o sucesso desse projeto. Roberto deu todo apoio. No fim, todos foram recompensados com bônus extras.
Roberto Cavalcanti, com seu dom de visionário e aguçada intuição, descobriu uma oportunidade em São Paulo. Uma empresa chamada Hevea, que estava à venda, aquela que tinha como logomarca uma maçã vermelha. Era do mesmo ramo de plástico e, seu carro chefe, eram produtos de utilidades domésticas da cor branca e caixas agroindustriais. Roberto mediante uma engenharia econômica e financeira adquiriu a fábrica.
Na época o Governador da Paraíba Tarcísio Burity e a Prefeita de São Paulo, nossa conterrânea, Luiza Erundina deram apoio total ao projeto. Inclusive visitaram e almoçaram várias vezes na fábrica. Durante seis meses, eu, Chada, José Fernandes, José Luiz, Dina Torti e, evidentemente, Roberto Cavalcanti, trabalhamos diuturnamente em São Paulo.
A Polyutil alugou alguns flats num edifício situado na Vila Nova Conceição, um dos melhores bairros da capital paulista, que ficava perto da sede da Hevea. Lembro-me que jantei várias vezes em mesas separadas com Leão, goleiro do Palmeiras e da Seleção Brasileira, além do grande compositor e cantor Toquinho.
Todos os diretores e gerentes ficavam hospedados nesses flats. Roberto teve uma ideia. Todo mês ele mandava buscar nossas esposas, para passar o fim de semana conosco. Saíamos para jantar nos melhores restaurantes de São Paulo e assistíamos peças de teatro. Era uma forma de aliviar os estreses.
Em São Paulo, na Hevea, havia uma discriminação conosco. Paraibanos industriais na maior capital do país. Era o que faltava. Já não bastava a prefeita? Muitos gerentes locais e funcionários da empresa engoliam a força, nossas presenças e decisões. Repito. Os que faziam a equipe da Polyutil eram profissionais e éticos nos negócios, bem como, cordiais e educados com os colaboradores da Hevea, mas, não subalternos aos paulistas. Roberto Cavalcanti mandou hastear na entrada da fábrica as bandeiras do Brasil, de São Paulo e da Paraíba. Só faltou mandar, os paulistas, prestarem continência. Hoje dou grandes risadas quando relembro esses fatos.
A Polyutil S/A tinha também uma fábrica de pequeno porte situada em Duque de Caxias (RJ). A linha de produção era exclusivamente de embalagens (garrafeiras) produzidas para as grandes cervejarias do país. Visitei várias vezes essa fábrica, inclusive, implantando um sistema de sinalização e de informações estatísticas. Implantamos, também, em parceria com o Gerente Comercial, José Luiz, um sistema de relacionamento ou network com os principais clientes.
Passados alguns anos de ascensão e certa estabilidade econômica fomos mergulhados em nova crise. Agora, decorrentes de políticas dos governos do PT. A corrupção era quase generalizada, para sermos otimistas. Pelo jeito vai faltar prisão. Mas, como se sabe, na crise é que surgem as oportunidades. Estamos a vivenciar, em 2019, um novo governo. Agora, mais uma vez, é acreditar e esperar...!
Finalizo este capítulo agradecendo aos amigos que contribuíram significativamente para minha formação em gestão de negócios, quais sejam: Roberto Cavalcanti e Luiz Guilherme Chada.