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sábado, 2 de julho de 2011

Uma história Zen...

Templo de Buda
Debate por um alojamento [i]

Em alguns templos zen japoneses, existe uma antiga tradição: se um monge errante conseguir vencer um dos monges residentes num debate sobre budismo, poderá pernoitar no templo.Caso contrário, terá de ir embora.
            Havia um templo assim no norte do Japão dirigido por dois irmãos. O mais velho era muito culto e o mais novo, pelo contrário, era tolo e tinha apenas um olho. Uma noite, um monge errante foi pedir alojamento a eles. O irmão mais velho estava muito cansado, pois havia estudado por muitas horas: assim, pediu ao mais novo que fosse debater: “Solicite que o diálogo seja em silêncio”, disse o mais velho.
            Pouco depois,o viajante voltou e disse ao irmão mais velho: “Que homem maravilhoso é seu irmão. Venceu brilhantemente o debate. Assim, devo ir-me embora. Boa noite”.
            “Antes de partir”, disse o ancião, ”por favor, conte-me como foi o diálogo”.
            “Bem”, disse o viajante, “primeiramente, ergui um dedo simbolizando Buda. Seu irmão levantou dois dedos simbolizando Buda e seus ensinamentos. Então, ergui três dedos para representar Buda, seus ensinamentos e seus discípulos. Daí, seu inteligente irmão sacudiu o punho cerrado em minha frente, indicando que todos os três vêm de uma única realização”. Com isso, o viajante se foi.
            Pouco depois, veio o irmão mais novo parecendo muito aborrecido. “Soube que você venceu o debate”, falou o mais velho. “Que nada!”, disse o mais novo, “esse viajante é um homem muito rude”.
            “É?”, disse o mais velho. “conte-me qual foi o tema do debate”.
            “Ora!”, exclamou o mais novo, “no momento em que ele me viu, levantou um dedo insultando-me, indicando que tenho apenas um olho. Mas, por ser ele um estranho, achei que deveria ser polido. Ergui dois dedos congratulando-o pó ter dois olhos. Nisto o miserável mal-educado levantou três dedos para mostrar que nós dois juntos tínhamos três olhos. Então, fiquei louco e ameacei lhe dar um soco no nariz – assim, ele se foi”.

Moral da história: a linguagem nos treina a aproveitar melhor as experiências, a considerar os erros como oportunidades de aprendizagem.


[i]  Nem água, nem lua, Bagwan Shree Rajneesh, Pensamento, 1995.

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