CAPÍTULO 5
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| Diretoria da AUP e Madrinhas |
FESTA UNIVERSITÁRIA DE PATOS
No final da década dos anos 50, o número de doutores na cidade de Patos era pouco maior, do que a soma dos dedos dos pés e das mãos. Os mais conhecidos na área médica: Artur Tavares, Dionísio Costa, Oscar Torres, Lauro Queiroz, Olavo Nóbrega, Severino Araújo, Osman Araújo, Geraldo Carvalho, Diógenes Santos, Rivaldo Medeiros, Alcides Candeia, Leudo Pereira e Terezinha Gomes. Na área odontológica: Walter Araújo, Edmilson Lúcio, Otávio Pires, Otácio Henriques, Antônio Andrade, Geralda Freire e o grande Bozamba, de feições fidalgas, muito simpático e sorridente, querido por todos e o preferido das pessoas mais humildes. Nas ciências jurídicas: Napoleão Nóbrega, Francisco Torres e Francisco Soares de Sá. Na engenharia: Nabor Wanderley, engenheiro de minas e Joaquim Bitu, engenheiro agrônomo. Este seleto grupo, era facilmente identificado no meio da população, pela elegância como se vestia. Outra forma de identificação era o paletó de linho branco, irlandês, S129 e sapatos BNB ou Fox de cromo alemão. Lá vem o doutor! A meninada parava o jogo ou quaisquer outras brincadeiras para deixar a calçada livre para eles passarem. Havia, ainda, os carros, bonitos, Chevrolet Impala, Ford Farlaine, Citroen e Studebacker desfilando pelas ruas da cidade - com certeza pertencia a um doutor. Para nós eles eram uns santos. Ou então, Sr. Severino Lustosa ou o Sr. Hardman Cavalcanti, o primeiro proprietário de uma usina algodoeira e o outro proprietário de uma concessionária e revenda de automóveis. Na feira livre e no comércio, tudo de bom era ofertado primeiro para os doutores. Esse cenário se dava em face de só existir na época, cursos superiores na Capital. Coisa para poucos. Não será exagero afirmar que 85% dos estudantes paravam seus estudos ao terminar o ginásio e apenas 10% concluíam o nível médio na área de contabilidade; tudo isso devido ao esforço de um grupo liderado pelo bancário Francisco Mascarenhas, Luiz de França, José Gomes e Socorro Oliveira, que criaram tal curso, semente da hoje grande Universidade Faculdade Integrada de Patos (UNIFIP), cujo Reitor é João Leuson, filho do meu amigo José Gomes. Cientes e conscientes desta triste e nua realidade, em 1957 um grupo de universitários patoenses que estudavam na cidade de Recife, liderados pelos jovens Onaldo Queiroz, Edvaldo Leite, Alberto Trigueiro (meu irmão), Umberto Sátyro Fernandes, João Gusmão, Divaldo Gomes e José Soares de Figueiredo (Zé Tota), chegaram à conclusão: tinham que arranjar um meio, direta ou indiretamente, da universidade chegar aos estudantes menos favorecidos, principalmente, aqueles jovens que tinham potencialidade e vontade de cursar uma Escola Superior. Criou-se então, uma instituição filantrópica, a Associação Universitária de Patos (AUP). O desafio estava lançado. Restava, agora, vender esse brilhante projeto as instituições governamentais, as universidades e, principalmente, a sociedade. Foi aí que nasceu a ideia de se fazer uma semana de extensão universitária na Morada do Sol. Dentro de sua programação, as atividades culturais seriam repassadas num clima de festa, que envolvesse toda comunidade. Tecnicamente falando, os riscos de fracasso existiam, pois era um evento inovador e gigante, cuja realização dependia além dos esforços de seus associados, de recursos para cobrir as despesas dos convidados, do corpo de artistas e da orquestra. A escolha do mês das férias do meio do ano teve por base, o fato de que nesse período, não existia, em Patos, nenhum evento capaz de obnubilar o evento. Naquela época, o São João, ainda, era uma tímida festa familiar, em termos de comércio. Só o carnaval, a festa da padroeira Nossa Senhora da Guia e o Natal movimentavam tanto o comércio. Foi um sucesso! No decorrer do tempo, surpreendeu a todos em face dos efeitos provocados no público-alvo - estudantes colegiais, com impacto positivo em todos os segmentos da cidade. Naturalmente que a primeira Festa Universitária foi de difícil realização. Os seus líderes, bem trajados, batiam de porta em porta nas principais casas comerciais para expor a programação e ao mesmo tempo pedir uma colaboração para o evento. O famoso “livro de ouro” era uma forma elegante de pedir uma contribuição financeira. Mas, surgiram dois problemas: o primeiro, onde hospedar os ilustres convidados? Pois, o setor de hotelaria da cidade estava preparado para receber caixeiros viajantes. O Hotel Central, do Sr. Estevão, era o melhor na categoria de dormitório. Quanto ao segundo problema, era onde realizar os bailes, uma vez que o Tênis Clube e o salão da ACIAP estavam em reformas. Como diz o matuto – “se um nó cego é difícil de desatar imaginem dois”! Quanto às hospedagens, a solução encontrada foi buscar a adesão dos proprietários, das melhores residências da cidade, A adesão foi imediata: papai, Clovis Sátiro, Nabor Wanderley, Darcílio Wanderley, Francisco Marques, Bivar Olyntho, Dr. Severino de Araújo, Redy Wanderley, Arnaldo Diniz, entre outros. Em se tratando de grupos de coral, teatro etc., os alojamentos masculinos do Ginásio Diocesano e o feminino do Colégio Cristo Rei solucionaram a questão. Já os bailes, a alternativa foi o pavilhão do Grupo Escolar Rio Branco, hoje o Fórum. Porém, havia outro problema: as dependências do grupo estavam malconservadas. Depois de árdua negociação, a diretoria da AUP comprometeu-se a ajudar no conserto das instalações. A essas alturas, a comunidade acadêmica já estava envolvendo os estudantes secundaristas na execução da festa e organizou-se um mutirão que foi dividido em grupos; cada um com uma tarefa: uns ficaram encarregado da pintura, e outros da recuperação dos sanitários e outros da limpeza. A iluminação de toda a área, ficou sob a responsabilidade do acadêmico de medicina João Soares Filho. Um expert em instalações e circuitos elétricos. Joãozinho como era chamado, convocou seu sobrinho Garibaldi Soares e Hélio Moura, meus amigos. O piso do salão, cheio de buracos e fendas, teve que ser recuperado. O pior foi aplicar cera de carnaúba e polir com escovão manual, pois, não tinha, no comércio local, enceradeira elétrica à venda. A decoração foi simples e agradou a todos. O tema, “Uma noite no Havaí”, foi sugestão e produção de Ivo Arruda, bancário do Banco Industrial de Campina Grande, e de Zé Mocinha, uma figura bastante conhecida e amiga de todos. Cachos de coco, folhas e outras plantas ornamentais, vieram da Fazenda Flores do jovem Mozart Wanderley que deram um novo visual ao pavilhão. Chegado o dia de abertura da Festa Universitária, houve um coquetel de congraçamento da classe estudantil e da sociedade. O presidente da AUP fez discurso e depois descreveu a programação dos eventos, seguido da distribuição de folhetos. A programação era basicamente: coquetel de abertura, duas noites com atividades culturais (palestras, teatro, corais, filmes etc.); dois bailes, um na noite de quarta-feira e o outro, de encerramento, no sábado. No domingo pela manhã posse da nova diretoria. A grande atração era o piquenique, na quinta-feira, para curtir a ressaca do baile da quarta. Vale ressaltar, que nos dias em que não tinha baile oficial, a turma improvisava os famosos assustados, ou tertúlias dançantes nas residências dos amigos, ao som de Ray Connyf, Paul Mauriat, Frank Purcel, Severino Araújo (Orquestra Tabajaras), Românticos de Cuba etc. Na noite de abertura, um grupo de atores da Capital, exibiu no palco lotado do Cine Eldorado, a peça de Ariano Suassuna, o Auto da Compadecida. Terminada a peça, aos poucos a rua foi ficando deserta, mas, aconteceu um segundo espetáculo: os estudantes liderados por Romero Nóbrega, Ledo Justiniano, Simone Urquiza, Carlos Magno (Bibis), dão “corda” ao famoso doido de Campina Grande, Dr. Mário, para apresentar a peça de sua autoria: O louco da Aldeia. Tratava-se de um crime passional, em que ele fazia os papeis de réu, vítima, promotor, juiz e jurado (qualquer semelhança com os tempos de hoje é mera coincidência) ... A dramatização era tanta, que ele chorava, e rasgava as vestes, partindo para cima da plateia...O público delirava. Quem não gostou foi Antônio Açoite, outro doido, agora, de Patos. Este, enciumado, se achando em segundo plano, passou a girar, andando pela cidade, uma pedra afiada como se fosse um ioiô. Aliás, é muito comum no sertão as cidades ter pelo menos um doido de estimação. Como era o caso! Finalmente, as festividades aconteceram sem incidentes. A sociedade compareceu em massa e, apesar da falta de infraestrutura, ninguém reclamou de nada e isso foi fundamental para o sucesso da primeira festa e estímulo da comissão organizadora. No ano seguinte, a comissão organizadora, trouxe, de João Pessoa mais uma celebridade do mundo dos doidos: Mocidade, que tinha outro apelido que ele não gostava - Carne Verde. Virava uma fera. Mocidade sabia de cor os versos do imortal Augusto dos Anjos. A turma, para desafiá-lo, chamou o gigante Zé Doido que sabia de memória, os discursos de políticos famosos, entre eles, Rui Carneiro, Alcides Carneiro, Zé Américo etc. Era uma atração. Juntava muita gente para assisti-los. Em conversa, com Alberto, meu saudoso irmão, tomei conhecimento que o apurado, da festa, só deu para pagar as despesas. Mas, eufórico ele dizia: “foi muito bom, estávamos esperando prejuízo. Agora já podemos pensar na próxima festa - aprendemos o caminho das pedras”. As cinco primeiras festas foram marcantes para a consolidação dos objetivos. Cada ano tinha uma barreira a mais a superar com relação à infraestrutura da cidade. A divulgação boca a boca extrapolou as fronteiras e o Nordeste agora sabia desse grande evento. Ano a ano o número de visitantes na cidade aumentava e a Festa Universitária de Patos chegou a ser um dos maiores acontecimento turístico do Estado. Depois disso, outros municípios copiaram a ideia. Apesar de ter água encanada, telefone e energia da hidroelétrica de Coremas, galerias pluviais, obras do grande gestor Dr. Nabor Wanderley, a cidade não tinha um hotel a altura. Nesse enfoque, uma vez que a iniciativa privada não queria correr o risco de investir naquilo que poderia se constituir num “elefante branco”, o então prefeito, Bivar Olintho, já falecido, gozava de prestígio com o Presidente Juscelino Kubistchek e, conseguiu construir e inaugurar, em 1962, o Hotel JK, o mais moderno e confortável da região. Este novo empreendimento de hotelaria, possibilitou a vinda de empresários e autoridades de outros Estados para participar da famosa festa. Em termos de movimentação financeira, o evento festivo passou a ser o principal acontecimento socioeconômico que mais contribuía para circulação de dinheiro em todos os ramos da atividade comercial e prestação de serviços. Vendia-se de tudo. Deste os sapatos, mais simples, aos de cromo-alemão, da Fox, BNB, Prada, Clark etc. As principais sapatarias eram: A Exposição do Sr. Antônio Araújo e a do Sr. Ramiro Gondim. As lojas de tecidos ofertavam as últimas novidades que a sociedade carioca estava usando. A concorrência ficava por conta das Casas GG; Lojas C. Barros; A Simpatia; Casas dos Retalhos e Camisaria Campos. Já a costura ficava por conta das costureiras Dona Luisinha; Dona Auxiliadora; Dona Marly e as irmãs Araújo Ritinha e Tereza que já, no mês de março, começavam a trabalhar nas encomendas. No que refere aos homens, havia até fila de espera para adquirir um paletó de tropical inglês, Super Pitex, tirilinte, ou linho irlandês confeccionado pelo Ditador da Moda, Sr. Arnaldo Diniz ou Sr. José Alves, conhecido comercialmente por Bodinho. Meu paletó de formatura foi feito por Bodinho. Os atacadistas de bebidas e gêneros alimentícios faziam estoques especiais para atender a demanda do público que vinha para a festa. Os cardápios dos restaurantes da cidade, liderados pelo Sr. Inácio Fernandes, caprichava nos pratos regionais, servindo carne de sol (curtida no sereno), arroz da terra, feijão macáçar, coalhada em tigelas de barro, queijos de manteiga e de coalho, manteiga da terra, tapioca, tucunaré, baião de dois, buchada de bode etc. Pratos esses, cujos ingredientes eram fornecidos pelos fazendeiros locais, a exemplo do Sr. Oscar Xavier, Roldão Caroca, Fernando Limeira, Heraldo Xavier, Euclides Guedes e outros. O movimento do matadouro público dobrava o abate de bovinos, caprinos e ovinos. A procura das barbearias triplicava, era fila a semana toda nos salões dos senhores Antônio Melquiades, João da Cruz, Dora, Nego Luís (meu barbeiro) e outros; os salões de beleza das senhoras: Madalena Chaves; de sua irmã Ridete; Severina Diniz e Geny, não davam vencimento. As jovens e senhoras procuravam apresentar-se na última moda de penteados, com bobs gigantes; outras improvisavam com buchas de Bombril os famosos coques que pareciam um alfenim, passavam horas com o cabelo nos secadores, para secar um fixador que cheirava a borracha queimada. Para minimizar, tomavam banho com essências importadas da França, pela Perfumaria Glória do Sr. João Xavier, que cada ano surgia uma nova essência, Lancaster reinou por bom tempo. Até os prestadores de serviços informais faturavam bem, a exemplo de Mané Zuza (ei... Psiu. Psiu!), com seus salgadinhos; Luiz Doidinho, engraxate, era o preferido dos visitantes - divertido, trabalhava cantando a música de Luís Gonzaga, Carolina. Pum, pum, pum... Esse som, ele fazia no sovaco, era um show man na praça; Paulo(a), o Touro, residente na Rua Felizardo Leite, se vangloriava por ser o(a) único(a) na cidade a lavar um paletó e deixar cheirando a novo. No mundo dos negócios, como sempre, tem um lado que ganha e outro que deixa de ganhar. O clero conservador, seguidor de Frei Damião, disparava seus canhões nas suas pregações: “Cuidado, estamos nos caminhos de Sodoma e Gomorra. Vem aí uma semana de orgia”. O nosso querido e saudoso Padre Levi Rodrigues, que foi também Deputado Estadual, líder em comunicação, no seu programa diário na Rádio Espinharas de Patos, de grande audiência no meio rural, ia direto ao assunto: “Atenção, atenção ... devotas de Santo Antônio - vem aí uma semana de festas, de rela, rela, no miolo do salão. É preciso ter o escudo de proteção antes de acontecer o bem bom. Faça seu pedido de um noivo e coloque num envelope juntamente com a sua oferta para o Santo Casamenteiro. Entregue nas mãos dele vai dar tudo certo”. No anverso do religioso, o proprietário do Bar Esquina da Vida, o simpático Valdivino, que com um bigodinho a Cantinflas, não fechava a boca de felicidade. Casa cheia, não sobrava um pedaço da sua tradicional galinha de capoeira com feijão verde e, é claro, uma loira gelada. Nas noites que tinham assustados, o segundo tempo era no portal do mundo profano, no tradicional Esquina, ponto de encontros das loiras quentes e geladas, quem escolhe é o freguês, dizia sorridente. Quando lhe perguntavam se a galinha tinha dormido, resposta automática: “repara! Esta tinha o selo no rabo, de Dona Margarida”. Dona Margarida comprava e cevava galinhas de capoeira, para depois vender. Seu comércio era na Pedra do Cruzeiro, que ficava por trás das casas do Sr. Chiquinho Xavier e do Sr. Stoessel Wanderley. O estoque zerava na semana de festa. Os bailes e piqueniques eram os eventos mais prestigiados da Festa. Inicialmente, nos bastidores, pesava na escolha da madrinha, ser filha de um fazendeiro, pois ele sentindo-se honrado, doava com prazer as instalações de sua fazenda, abatia boi e criação de pequeno porte, para fazer o churrasco, além da bebida. Era o dote da Madrinha, para ser estrela por uma semana. Com a continuação, a escolha da madrinha passou a ser por uma comissão julgadora. Os critérios, é claro, mudaram. Impossível elencar, hoje, todas as belas madrinhas. Mas, não obedecendo à cronologia das festas lembro-me de: Nilzete Assis, Socorro Pereira, Sara Pereira, Moema Olintho, Celia e Carmem Batista, Gilka Wanderley, Leda Xavier e Iara Carmem. Os piqueniques que participei foram todos muito agradáveis e divertidos, com muita comida, bebida, música ao vivo tocada por regionais da terra; alguns realizados nas propriedades dos senhores Oscar Xavier, Mozart Wanderley, Dr. Nabor Wanderley, Bivar Olintho e Euclides Guedes, entre outros. A festa começava às 10:00hs e só terminava na alvorada, quando o bacurau começava a saltitar no terreiro e a “marvada” da cachaça, já tinha subido a cabeça. Os bailes eram verdadeiros desfiles da alta costura. As senhoras e senhoritas apresentavam-se elegantemente vestidas, conduzidas por verdadeiros cavalheiros trajados a rigor. Pareciam mais com os bailes do Copacabana Palace Hotel, vistos nas chanchadas dos filmes nacionais exibidos no Cine Eldorado. Os jovens e elegantes universitários, perfilados na borda da passarela que liga a entrada do Tênis Clube até o salão principal, indicavam o local das mesas e, divertiam-se apostando a cor do vestido, o tipo de penteado, além de sentir o perfume das rosas patoenses. Como foi maravilhosa a nossa juventude! Ao som de boas orquestras que tocavam dos românticos boleros e sambas, a bossa nova. O salão lotado de pares apaixonados. Como se aquela fosse à última vez. Dentre as melhores orquestras que tocaram os bailes dos sábados, foi a de Nelson Ferreira, de Recife, na época entre as de maior sucesso no Brasil e o Conjunto de Ogírio Cavalcanti de Campina Grande. Vale destacar que AUP promoveu a criação de vários conjuntos musicais, destacando-se “Os Jovens” de muita qualidade musical, vanguarda no repertório e estilo, tendo merecido uma apresentação na “Boite” do Esporte Clube Cabo Branco na Capital do Estado. |
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Da esquerda para a direita, no primeiro plano: Olivan Xavier, Aluízio Bocão, Dep. Edvaldo Mota, Carlos Trigueiro, Marcelo Costa, Carlos Candeia, Inácio Xavier e José Carlos. No segundo plano, Adilson Leite, Humberto Rodrigues e Osvaldo Trigueiro. Local, restaurante do Patos Tênis Clube, em 1970.
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| Conjunto de Ogírio Cavalcanti Nesse tempo ainda não existia o asfalto de Campina a Patos. Uma vez, o ônibus quebrou. Passei por um sufoco. Mas cheguei na hora. Foi um baile inesquecível. Um fato hilariante ficou guardado na minha memória. Num baile da madrinha, em que era permitido traje passeio, mesmo assim, as mulheres exibiam os mais belos e caros vestidos, alguns confeccionados por Denner ou Clodovil, era uma verdadeira disputa de glamour. Clube cheio. De repente, entra Rênio Torres acompanhado de Michaely, uma americana voluntária da paz, filha de um senador californiano que optou por prestar serviços nas ações comunitárias e assim, escapar da guerra do Vietnam. Com seus 1,80m, de altura e peso bem distribuídos, cabelos pretos, longos e lisos, presos por uma tiara dourada, mas, incapaz de domar o vento que os deixavam esvoaçantes. Olhos verdes, face angelical maquiada pelo sol do sertão, vestindo uma peça única de seda cor esmeralda, que suavemente cobria as lindas curvas do seu corpo. Um sucesso entre a rapaziada. Para não ficar mais alta do que o seu par, calçava uma sandália de salto baixo. Rênio, era a cópia fiel de um Lorde Escocês, usava um blazer xadrez prata, calça preta, camisa branca de punho duplo presos por abotoaduras madre pérolas, gravatinha de laço e lenço de cor vermelha. Orgulhoso, de sua companhia, para se exibir, ele contornou todo o salão, atraindo as atenções e olhares para aquela musa a hipnotizar a todos diante de sua beleza. Tomadas de raiva, as mulheres beliscavam seus parceiros. Acredito que o ódio estava no fato de vestirem roupas caras, de terem passado horas se embelezando e, mesmo assim, ofuscadas, pelas roupas simples e baratas, que cobriam aquele corpo escultural. Verdadeira Afrodite. Outro fato cômico era a figura de Fernando Mocinha, irmão de Luís Doidinho. De dia, com um tabuleiro de pirulitos açucarados desfilava nos pontos de concentração de turistas. Nas noites de baile, com indumentária de garçom e uma cesta com rosas delicadamente embaladas, oferecia de mesa em mesa, imitando “La Violetera”, com o seu portunhol: “buenas noches cabaleiro ... Buenas noches senhorita...”, A abordagem sempre dava certo. O sucesso da festa, além da organização dos diretores da AUP estava ligado aos colaboradores locais, pois, sem eles seria quase impossível executar um evento de tamanha magnitude. Havia ainda um “quartel general” como era carinhosamente chamada a residência da eterna diplomata e Primeira-Dama de Patos, Dona Nini Gomes, esposa de Bivar Olintho e genitora de Armando, Roberto, Moema e Sandra (meus parentes descendentes dos Meira). Figuras simpáticas e queridas, de uma generosidade ímpar. Dentre os embaixadores e embaixatrizes, recordamos: Mozart Wanderley, Manoel Cavalcanti de Lacerda Neto (Bié), Rênio Torres, Everaldo Carneiro, Armando e Roberto e Moema Olintho, Juventude Carneiro, Nilzete Assis, Alacoque, Nininha, Maria José Marques, Ledinha Travasso, Mozany, Marivalda, Mariola (um ícone da independência da mulher), Djanete Conde, Gislene Gentil, Pautúlia Torres entre outros, não citados por falha da memória. Sem a cooperação e integração do trabalho dessa equipe, não teria sido possível a apresentação da Esquadrilha da Fumaça, que foi um dos maiores espetáculos nos céus das Espinharas. Veio gente de toda redondeza. A cada acrobacia, o público vibrava e, por sua vez, contagiava os Ases da Força Aérea Brasileira. Tudo isso só foi possível, graças ao ilustre patoense, o Brigadeiro do Ar, Firmino Ayres de Araújo, à época comandante da Base Aérea de Natal do Rio Grande do Norte. Outra atração popular era o desfile, das misses e da madrinha da festa, em Jeep aberto, dirigidos pelos Srs. Zé Tota, Redy Wanderley, Hélio Moura, Geraldo Maracajá, pelas ruas da cidade. O comércio parava, todos convergiam seus olhares e aplausos quando passavam as beldades dos Estados – Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará. Havia ainda, a turma do abre alas, a patrol do sucesso que trabalhava atrás das cortinas. Tudo pela grandeza e projeção da nossa Patos. Momentos inesquecíveis, da minha vida. Lembro também, de Ritalmo Moura, o nosso querido “Gatinha”, o Cônsul Doçura, pau para toda obra, sempre sorrindo e procurando ser gentil com todos. Toda essa descrição, não passa de uma síntese dos frutos colhidos pela AUP e o seu principal efeito foi de multiplicar o número de estudantes, filhos de Patos, cursando nível superior nas mais diversas áreas de conhecimento científico. Na medida em que iam acontecendo às festas, um volume de informações básicas era didaticamente repassado aos secundaristas que pretendiam ingressar em uma universidade. Perguntas como: quanto gasta por mês e onde morar numa capital? Quais os documentos necessários para concorrer ao vestibular? Qual a concorrência por vaga no curso de sua pretensão? O que devo fazer para me nivelar com os demais concorrentes? Construiu-se, assim, um canal permanente de informações valiosas, que eram repassadas não só os famosos “bizús”, como também apostilhas específicas a cada área de conhecimento, de tal forma, que muitos quando chegavam pela primeira vez na capital, já sabiam todos os caminhos e portas necessários para atingir os seus objetivos. Já estava tudo acertado, hospedagens, cursinhos preparatórios, mapas das ruas e número dos ônibus que deveriam pegar. Daí brotaram verdadeiras colônias de estudantes patoenses Aproximadamente dez anos após a primeira festa universitária, já no início dos anos setenta o número de acadêmicos de Patos, de pouco mais meia dúzia, já passava de 200; o que atesta a importância da AUP. Com o advento da SUDENE em 1959, em seus diversos segmentos, abriram as portas para os novos profissionais patoenses. No biênio 1969/1970 fizemos parte da diretoria AUP, exercendo o cargo de Vice-Presidente. O Presidente nessa gestão foi o meu amigo Carlos Candeia. Faziam parte, também, da diretoria, os amigos: Inácio Xavier, Marcelo Costa, Olivan Xavier, Umberto Fernandes, Yara Carmem, Maruzia Costa, Paltúlia Torres, Paulo Celestino, Antônio Vieira, Durval Travassos, Pedro Firmino, Valdo Emerson, Adilson Leite, Bolívar Coutinho, Francisco José, Fred Tavares, os irmãos Manuel e Maridácio Guedes e Josemar Lúcio. Quando do registro de nossa chapa, tivemos um contratempo causado por um sacerdócio que tinha bastante prestígio na cidade, como também junto com os militares da Revolução de 1964, em especial com o General D’Ávila Melo, comandante do Grupamento de Engenharia. O candidato do sacerdócio era adversário da nossa chapa. No entanto, tudo foi resolvido e nossa chapa registrada e vitoriosa. Na nossa gestão, dentro da nova realidade política em que se encontrava o Brasil, no quinto ano do regime militar, todo e qualquer evento, concentração de pessoas, tinha que ter uma anuência do governo, principalmente quando se tratava de movimentos estudantis. |
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Baile da madrinha - Patos Tênis Clube, em 1966. |
A diretoria da AUP se reunia uma vez por mês. Os diretores alternavam entre Recife e João Pessoa para realizar as reuniões com vista a programação da Semana Universitária. Essas reuniões terminavam numa grande farra.
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Universitários de Patos |
O autor, Hélio Moura, Fernando - meu irmão, Everaldo Carneiro e Garibaldi Soares na Boate do Hotel JK durante evento da Festa Universitária.
Meus irmãos, George e Osvaldo, universitários dos cursos de Medicina e Comunicação Social, como também Ricardo Trigueiro, meu sobrinho, foram diretores da Associação Universitária de Patos, nos anos 1970/80.
Naturalmente que não é possível falar de tudo, como também é impossível não deixar de citar alguns nomes, afinal era muita gente envolvida. Fica, assim, registrada a criação da Associação Universitária de Patos (AUP) e render um tributo aos pioneiros que tiveram tão brilhante ideia que influenciou e traçou os caminhos de uma juventude inteligente e ávida por conhecimentos. Alguém já disse: “importante é que só os abençoados são capazes de grandes ações em benefício dos menos favorecidos”.
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| Diploma de Sócio Honorário da AUP para o Autor |
